Felicidade dos santos
-
O homem justo, ao encerrar sua vida terrena no amor, já não poderá progredir na
virtude.
Para sempre continuará a amar no grau de caridade que atingiu ao
chegar até mim.
-
Também será julgado na proporção do amor.
-
Continuamente ME DESEJA, continuamente me possui; sua aspirações não caem no
vazio.
-
Ao DESEJAR, será saciado; ao saciar-se, sentirá ainda fome; distanciando-se,
assim, do fastio da saciedade e do sofrimento da fome.
-
Os bem aventurados gozam da minha eterna visão. Cada um no seu grau, de acordo
com a caridade em que vieram participar de tudo o que possuo.
-
Por terem vivido no meu amor e no amor dos homens; por terem praticado a
caridade em geral e em particular, qual fruto de um único amor desfrutam -na
alegria e gozo- dos bens pessoais e comuns que mereceram.
-
Colocados entre os anjos e santos, com eles se rejubilam na proporção do bem
praticado na terra.
-
Entre si congraçados na caridade, os bem aventurados de modo especial
comunicam-se com aqueles que amaram no mundo. Realizam-no, naquele mesmo amor
que os fez crescer na graça e nas virtudes. Na terra, ajudavam-se uns aos
outros, a glorificar-me, a louvar-me em si mesmo e nos outros; tal amor
continua na eternidade. Conservam-no, partilham-no profundamente entre si; com
maior intensidade até, associando-se a felicidade geral.
-
Não penses que a felicidade celeste seja apenas individual. Não! Ela é
participada por todos os cidadãos da pátria, homens e anjos.
-
Quando chega alguém a vida eterna, todos sentem sua felicidade, da mesma forma
como ele participa do prazer de todos. Não no sentido que os bem aventurados
progridam ou se enriqueçam, pois todos são perfeitos e não precisam de
acréscimos.
-
É uma felicidade, um prazer, um júbilo, uma alegria que se renova
interiormente, ao tomarem eles conhecimento da riqueza espiritual do recém
chegado. Todos compreendem que ele foi elevado da terra a plenitude da graça
por minha misericórdia; naquele que chegou todos se alegram, gratos pelos dons
por mim recebidos. O novo eleito, igualmente, sente-se feliz em mim e nos bem
aventurados, neles contemplando a doçura do meu amor.
-
Em seus anseios, os eleitos clamam continuamente diante de mim em favor do
mundo inteiro.
-
Suas vidas haviam terminado no amor fraterno; continuam no mesmo amor. Aliás,
foi exatamente por tal caridade que passaram pela porta, que é Meu Filho Jesus
Cristo.
-
Os bem aventurados continuam no céu, eternamente, naquele mesmo amor com que
encerraram a vida terrena.
-
Conformam-se inteiramente a minha vontade, SÓ DESEJAM O QUE EU DESEJO. Chegando
ao momento da morte em estado de graça, seu livre arbítrio fixa-se no amor e
eles não pecam mais. Suas vontades identificam-se com a minha. Se um pai, uma
mãe veem ou, em sentido contrário, se um filho vê os pais no inferno, não se perturbam.
Até se alegram por ver tal pessoa punida, como se fosse inimigo seu.
-
Os bem aventurados em nada se distanciam de mim. SEUS DESEJOS estão saciados.
-
Anseiam em ver-me glorificado por vós, viandantes e peregrinos que sois em
direção a morte.
-
Aspirando por minha honra, querem vossa salvação e sempre rogam por vós.
-
De minha parte, escuto seus pedidos naquilo em que vós, por maldade, não
opondes resistência a minha bondade.
-
Os bem aventurados DESEJAM recuperar seus corpos; toda via não sofrem por sua
ausência. Até se alegram, na certeza de que tal aspiração será realizada.
-
A ausência do corpo não lhes diminui o prazer, não é angustiante, não faz
sofrer.
-
Nem julgues que a satisfação de ter o corpo após a ressurreição lhes traga
maior bem aventurança. Se isso fosse verdade, seria sinal de que a felicidade
anterior era imperfeita enquanto não o recuperassem, e isto não pode ser.
-
De fato, nenhuma perfeição lhes falta:
Não é o corpo que faz
feliz a alma, mas o contrário.
-
Quando esta recupera o corpo no dia do Juízo, participará ele da plenitude e da
perfeição da alma. Naquele dia, esta se fixará para sempre em mim, e o corpo
-em tal união- ficará imortal, sutil, leve.
-
Deves saber que o corpo ressuscitado pode atravessar uma parede, que o fogo e a
água não o ofendem. Tal propriedade lhe advém, não de uma virtude própria, mas
por uma força que gratuitamente concedo a alma, que foi criada a minha imagem e
semelhança num inefável ato de amor.
-
Tua inteligência não dispõe da capacidade necessária para entender, nem teus
ouvidos para escutar, a língua para narrar e o coração para sentir qual a
felicidade dos santos.
-
Que prazer sentem na minha visão, que satisfação ao recuperar o corpo
glorificado! Até o Juízo final não o possuem, mas sem sofrimento; suas almas já
são perfeitas e o corpo apenas virá a participar dessa plenitude.
-
Estava Eu falando da perfeição que o corpo ressuscitado receberá da humanidade
glorificada de Jesus, a qual vos dá a certeza da ressurreição! No seu corpo
brilham as chagas, sempre vivas; conservam-se as cicatrizes a implorar
continuamente perdão para vós a mim, Pai eterno.
-
Os bem aventurados assemelhar-se-ão a Cristo na alegria e no prazer: os olhos
dos santos serão como os do Ressuscitado, as mãos como suas mãos, todo o corpo
igual ao seu. Unidos a mim, estarão unidos a Ele, que é uma só coisa comigo.
-
Serão felizes vossos olhos ao ver o corpo ressuscitado do meu filho. Por que?
Porque a vida dos santos, ao encerrar-se no amor, não muda mais; como não podem
praticar um bem ulterior, gozam daquilo que trouxeram. Já não fazendo obras
meritórias -somente nesta vida é possível merecer ou pecar, segundo o livre
parecer da VONTADE- aguardam o Juízo final sem temor.
-
Mas também com alegria. Desse modo, a face de Cristo não lhe será um rosto
severo e irado. Morreram no meu amor e no amor do próximo.
-
Quando Cristo vier julgar com majestade divina, não o verão com severidade; tal
acontecerá com os que serão condenados. Estes verão o Ressuscitado com rosto
severo e justo. Para os santos sua face mostrar-se-á amorosa e cheia de
misericórdia.
O
Diálogo-Santa Catarina de Sena, 14.4
Nenhum comentário:
Postar um comentário