Julgamento falso e repreensões divinas
- Por causa dos vícios: Impureza, Ganância e Poder, os pecadores
pronunciam um julgamento falso, como passo a explicar-te.
- Embora sejam retas as minhas
ações e praticadas com amor e justiça, os pecadores continuamente se opõem a
elas.
- Foi com semelhante falso
juízo, envenenado ainda pela inveja e orgulho, que (os judeus) injustamente
condenaram a atividade de meu Filho.
- Mentindo eles diziam:
"Ele age na força de Belzebu" Mateus 12,24.
- Hoje os pecadores
comportam-se da mesma maneira, cheios de egoísmo, impureza, orgulho, ganância e
inveja.
- Baseados em interpretações
falsas, impacientes e por outros defeitos, em tudo se opõem a mim e a meus
servidores, que chamam de fingidos.
- Donos de um coração
corrompido e de uma viciada percepção dos fatos, julgam más as coisas boas e
vice versa.
- Ó cegueira humana, que nem
respeitas a própria dignidade:
·
sendo grande, fazes-te pequena;
·
de senhora, tu fazes-te escrava do mais vil
patrão, o pecado.
- Tornas-te semelhante aquele
a quem serves e como o pecado é nada, a nada te reduzes. Perdes-te a vida,
encontraste a morte.
- O Verbo Encarnado, meu Filho
único e ponte de glória, deu aos homens
vida e grandeza:
·
Eram escravos do demônio e ele os libertou.
·
Para que cumprisse tal missão, tornei-o servo;
·
para cobrir a desobediência de Adão, exigi que
obedecesse;
·
para confundir o orgulho, humilhou-se até a
morte de cruz.
- Por sua morte, destruiu o
pecado; já ninguém, pode dizer: "Restou este ou aquele vício, que não foi
remido com seus sofrimentos."
- No intuito de livrar a
humanidade da morte eterna, fez de seu corpo uma bigorna (Cristo atrai a si todas as coisas) e usou todos os remédios.
- No entanto, os pecadores
desprezam seu sangue, pisoteiam-no com um amor desordenado.
- Esta é a injustiça, este o
julgamento falso a respeito do qual o mundo é e será repreendido até o dia do
Juízo Final. A esse respeito, dizia meu Filho: "Mandarei o Paráclito; Ele repreenderá
o mundo da injustiça e do julgamento falso." João 16,8.
- Tal repreensão começou
quando enviei o Espírito Santo sobre os apóstolos.
São três as repreensões:
1ª repreensão: A Voz da Igreja
- A primeira repreensão
iniciou, com a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos. Fortalecidos pelo
Meu Poder, iluminados pela Sabedoria do amado Filho, receberam a Plenitude do
Espírito Santo. Este, que é uma só coisa comigo e com meu Filho, repreendeu
então o mundo pela boca dos apóstolos através da mensagem de Cristo.
- Por tal forma, eles e os
sucessores que ouviram a Verdade, repreendem o mundo.
- É a mesma perene repreensão,
sempre feita ao mundo pelas Escrituras Sagradas e pelos meus servidores.
- Coloco o Espírito em seus
lábios e eles dizem a verdade, da mesma forma como o demônio se põe na boca dos
seus asseclas, que pecaminosamente vão pelo rio do pecado.
- É a mesma doce e contínua
repreensão realizada por mim com imenso amor pela salvação humana.
- Não se pode dizer:
"Ninguém me chamou a atenção"!
A todos foi
mostrada a verdade sobre o vício e a virtude,
sobre os
frutos das virtudes e as conseqüências do pecado.
- Para que odiassem o mal e
amassem o bem, a todos foi oferecido o amor e o santo temor.
- Nem foi um anjo a lhes
revelar a mensagem da Verdade, de modo que pudessem escusar-se, dizendo:
"O anjo é um espírito feliz, não padece, não sente as fraquezas da carne
como nós ou o peso do corpo". Não, não podem falar assim, pois enviei-lhes
o Filho, homem mortal como vós.
- E os demais servidores do
meu Filho, como eram?
- Criaturas mortais e
passíveis como vós, sujeitos as lutas da carne contra o espírito. Assim
aconteceu com o glorioso apóstolo Paulo, assim com os outros santos.
- Cada um deles, a seu modo,
sofreu as tentações da Sensibilidade.
(14.2)
- Permiti e ainda permito
essas dificuldades para o crescimento da graça e das virtudes nas almas. Como
vós, os santos nasceram no pecado, nutriram-se do mesmo alimento (Eucaristia).
Também Eu Sou o mesmo Deus daquelas épocas;
Meu Poder não diminuiu.
Posso, quero e sei socorrer a quem deseja
ser por mim socorrido.
- Assim os pecadores abandonam
o Rio do Pecado e vão pela Ponte, vivendo a mensagem do meu Filho.
2ª repreensão: O Juízo particular
- Os pecadores não podem
desculpar-se.
- Continuamente são por mim
convidados ao Conhecimento da Verdade (conforme
Catecismo da Igreja Católica §851).
- Não se corrigindo enquanto
podem fazê-lo, uma segunda repreensão os condenará. Ela acontece no último
instante da vida, quando meu Filho chamar:
"Levantai-vos,
ó mortos, vinde para o julgamento"!
- Tu que morreste para a graça
e morto chegas ao fim da vida terrena, levanta-te, aproxima-te do Supremo Juiz.
Aproxima-te com tua maldade, com teus julgamentos falsos, com a lâmpada da fé
apagada. No Santo Batismo, ela foi-te entregue acesa; tu a apagaste com o sopro
do orgulho e da vaidade do coração, usados como velas enfunadas as ventanias
contrárias a salvação.
- O amor da fama soprava teu
amor próprio (egoísmo) e tu corrias alegre pelo rio dos prazeres mundanos; seguias a
frágil carne, as incitações do demônio, as tentações. Tua vontade era um pano retesado e o
diabo te conduziu pela estrada do mal, junto com ele, para a eterna condenação.
- Filha muito querida, esta
segunda repreensão se dá no fim da vida, quando não há mais remédio.
- Ao chegar no instante da
morte, o homem sente remorso.
- Já afirmei que ele é um
verme cego por causa do egoísmo.
- No instante final, quando a
pessoa compreende que não pode fugir das minhas mãos, esse verme recupera a
visão e atormenta interiormente a pessoa, fazendo ver que por própria culpa
chegou a tão triste situação.
- Se o pecador se deixar
iluminar e se arrepender - não por medo dos castigos infernais, mas por ter
ofendido a suma e eterna bondade - ainda será perdoado.
- Mas se ultrapassar o momento
da morte nas trevas, no remorso, sem esperança no sangue ou, então,
lamentando-se apenas pela infelicidade em que se acha - e não por ter me ofendido - irá para a perdição.
- Sobrevirá, pois, a
Repreensão pela injustiça e Julgamento falso:
·
Em primeiro lugar, a Repreensão da injustiça e
do Julgamento falso em geral, praticados no conjunto de suas ações;
·
depois, em particular, do último instante,
quando o pecador considera seu pecado maior que minha misericórdia.
- Este (Mateus 12,32) é o
pecado que não será perdoado, nem aqui nem no além. O desprezo voluntário da minha misericórdia
constitui pecado mais grave que todos os anteriores. Neste sentido, o desespero
de Judas desagradou-me e foi mais grave que a sua traição.
- Também para meu Filho! É por
causa deste (último) Julgamento falso que o pecador sofre a repreensão, ou
seja, porque acha que sua falta é maior que meu perdão. Este é o motivo da
punição, indo sofrer eternamente com os demônios.
- A Repreensão da injustiça acontece porque os pecadores sentem
mais tristeza pelos próprios danos que por me terem ofendido.
- São injustos, no sentido de
que não atribuem a mim o que me pertence e a si o que é deles.
- A mim deveriam oferecer o
amor, a tristeza e contrição dos pecados cometidos. Mas agem no sentido oposto,
só demonstrando auto compaixão e angústia pelo castigo que lhes merecem seus
pecados. Como vês, são injustos. E por tal motivo são punidos por uma e outra
coisa.
- Já que desprezaram meu
perdão, com justiça mando-os ao castigo (Mateus 25, 41), juntamente com a
Sensualidade e o tirano demônio, a quem na Sensualidade serviam.
- Já que solidariamente me
ofenderam, juntos serão punidos e atormentados. Os próprios demônios,
encarregados por mim de cumprir a sentença de justiça, atormentá-los-ão.
- Filha, tua linguagem é
incapaz de descrever os sofrimentos, destes infelizes.
- Sendo três os seus vícios
principais - egoísmo, medo de perder a
boa fama e orgulho - os quais se acrescentam a injustiça, a maldade e vergonhosos pecados, no inferno os pecadores
padecem quatro tormentos principais:
Primeiro tormento no inferno: a ausência da visão de Deus.
- Um sofrimento tão grande que
os condenados, se fosse possível, prefeririam sofrer o fogo vendo-me, que ficar
fora dele sem me ver.
Segundo tormento no inferno: o remorso.
- Como conseqüência, é o
remorso que corrói interiormente o pecador privado de mim, longe da conversação
dos anjos, a conviver com os demônios.
Terceiro tormento no inferno: visão do diabo.
- Ao vê-lo, duplica-se o sofrer.
- No céu os bem-aventurados
exultam com minha visão e sentem rejuvenescer o prêmio recebido pelas fadigas
amorosamente suportadas (no mundo);
- Da mesma forma, mas em
sentido contrário, os infelizes danados vêem crescer seus padecimentos ao verem
os demônios. Nestes, eles se conhecem melhor, entendendo que por própria culpa
mereceram o castigo.
- Assim o remorso os martiriza
e jamais cessará o ardor da consciência.
- Muito grande é este
tormento, porque o diabo é visto no próprio ser; tão horrível é sua fealdade,
que a mente humana não consegue imaginar.
- Se ainda o recordas, já te
mostrei o demônio uma vez assim como ele é; foi por um átimo de tempo. Quando
retornaste aos sentidos, preferias caminhar por uma estrada de fogo até o Juízo
final que tornar a vê-lo.
- No entanto, apesar do que
viste, ignoras sua fealdade. Especialmente porque, segundo a justiça divina,
ele é visto mais ou menos horrível pelos condenados, segundo a gravidade das
culpas.
Quarto tormento no inferno: fogo.
- Um fogo que arde sem
consumir, sem destruir o ser humano.
- É algo de imaterial, que não
destrói a alma incorpórea.
- Na minha justiça permito que
tal fogo queime, faça padecer, aflija; mas não destrua.
- É ardente e fere de modo
crudelíssimo em muitas maneiras, conforme a diversidade das culpas.
- A uns mais, a outros menos,
segundo a gravidade dos pecados.
- Destes quatro tormentos derivam os demais: o frio, o
calor, o ranger de dentes (Mateus 22,13).
- Como vês, repreendo os
pecadores nesta vida por seus Julgamentos falsos e injustiças;
·
se não se corrigem, faço-lhes uma segunda
repreensão na hora da morte;
·
pela ausência de esperança e arrependimento,
sobrevem-lhes a morte eterna em indizível infelicidade.
3ª repreensão: O Juízo final
- Passo a tratar do Julgamento
geral, quando a alma do condenado sentirá renovar-se o seu tormento, e mesmo
aumentar, com a recuperação do corpo.
- Será um padecimento
intolerável, acompanhado de muita confusão e vergonha. Quero que entendas
quanto se enganam os pecadores (neste mundo).
- Por ocasião do Juízo final,
o Verbo encarnado virá com divina majestade para repreender o mundo. Não mais
se apresentará pobrezinho, na forma como nasceu da Virgem numa estrebaria,
entre animais, para morrer depois no meio de ladrões.
- Naquela ocasião,
ocultei nele o Meu poder e permiti que suportasse penas e dores como homem:
·
A natureza divina se unira a humana e foi
enquanto homem que sofreu para reparar vossas culpas.
- No Juízo final, não
será assim, pois virá com poder a fim de julgar:
·
As criaturas humanas estremecerão e Ele a cada
um dará a sentença conforme o merecimento.
- Tua língua não consegue
exprimir o que se sucederá aos condenados.
- Para os bons, Jesus
será motivo de temor santo e alegria imensa.
- Em si mesmo, meu Filho não
terá diferenças, pois sendo Deus, é imutável. Ele é uma só coisa Comigo.
- Pela gloria da ressurreição,
até a natureza humana não padece mudanças.
- Mas os condenados não
o verão assim:
·
Olhá-lo-ão com visão obscurecida e horrível,
como lhes é próprio.
- O olho doentio, mesmo diante
do sol, somente vê escuridão, ao passo que o olho sadio vê apenas luz. Não que
o sol, em sua luz, transforme-se diante do cego ou daquele que possui bons
olhos. o defeito está na
cegueira.
- O mesmo acontece com os
condenados:
·
Verão o Ressuscitado em escuridão, na confusão,
no ódio.
Repito: não por
imperfeição da Majestade divina, que virá julgar o mundo, mas por causa da
própria cegueira.
- Grande é o ódio dos
condenados, pois já não amam o bem. Blasfemam continuamente contra mim!
- Queres saber por que já não
podem desejar o bem?
- É porque, no fim desta vida,
vincula-se o Livre
Arbítrio.
- Com o cessar do tempo, já
não se merece mais.
- Quem termina esta existência
no pecado mortal, por direito divino fica para sempre apegado ao ódio, obstinado
no mal, a roer-se interiormente.
- Seus sofrimentos irão
aumentando sempre, especialmente por causa das demais pessoas que por sua causa irão para a condenação:
- Tendes a respeito disto o
exemplo do rico epulário (Lucas 16,27), que suplicava a Lázaro para que fosse
até seus irmãos, no mundo, a fim de adverti-los sobre os futuros castigos.
- Ele não agia assim por amor
e compaixão deles.
- Não tinha mais a virtude da
caridade, nem poderia desejar-lhes o bem, seja querendo honrar-me ou salvar os
irmãos.
- Já te disse anteriormente
que os condenados ao inferno não podem fazer o bem:
·
eles só blasfemam contra mim, uma vez que suas
vidas acabaram no ódio a todo bem.
- Porque então o rico epulário
fala daquela maneira?
- Porque fora o mais velho dos
irmãos e dera-lhes maus exemplos durante a vida:
·
Pessoalmente era causa de condenação para eles.
- Se viessem para a sua
companhia, teria seus próprios tormentos aumentados.
O Diálogo | Santa Catarina de Sena 14.3
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