O amor a Jesus Cristo nas tentações
Os
sofrimentos que mais afligem nesta vida as pessoas que amam a Deus, não são a
pobreza, as doenças, as injurias ou as perseguições, mas sim as tentações e
tribulações espirituais.
Quando uma alma goza da presença amorosa de Deus, todas
as dores, os desprezos e os maus tratos, em vez de afligirem, consolam, pois
são motivos para oferecer a Deus alguma prova de seu amor. São lenha que ateia mais fogo. Mas, o ver-se tentada a
perder a graça de Deus ou o sentir o temor na desolação de já tê-la perdido,
são esses os sofrimentos mais amargos para quem ama de coração a Jesus Cristo.
Mas o próprio amor a Deus lhe
dá forças para sofrer com paciência e continuar no caminho da perfeição. E quanto
progridem as almas no caminho da perfeição com essas provas, que deus costuma
exigir-lhes de seu amor!
As tentações
Para quem
ama a Jesus Cristo não há sofrimento pior que as tentações. Todos os outros
sofrimentos o estimulam a se unir mais com Deus, quando aceitos com
generosidade. As tentações, porém, impelem a pecar, a separar-se de Jesus
Cristo e, por isso, são muito mais amargas do que todos os outros sofrimentos. É
preciso, porém, notar que todas as tentações, que impelem para o mal, não vêm
de Deus, mas do demônio ou das más inclinações:
“Deus é incapaz de
tentar para o mal, e ele não tenta ninguém” Tiago 1,13
Contudo, ele permite, as vezes, que as almas, que lhe são
mais caras, sejam tentadas mais fortemente.
1. Em primeiro lugar, para que
conheçam melhor a sua fraqueza e a necessidade que têm do auxilio de Deus para
não caírem. Quando uma pessoa se encontra interiormente consolada por Deus,
pensa ser capaz de vencer todas as tentações e realizar qualquer trabalho pela
gloria de Deus. Vendo-se, porém, duramente tentada, a beira do precipício, e
quase caindo, é então que reconhece melhor sua miséria e sua incapacidade para
resistir, se Deus não a socorre. Foi isso justamente o que aconteceu a São
Paulo que escreveu: “É para que a grandeza das revelações não me ensoberbecesse,
foi-me dado o estímulo da minha carne, um anjo de satanás, que me esbofeteie”
IICor 12,7
2. Em segundo lugar, Deus permite as
tentações para que vivamos mais desapegados deste mundo, e desejemos mais
ardentemente ir vê-lo no céu.
As pessoas de bom coração, vendo-se tentadas nesta vida
dia e noite, enfastiam-se de viver e dizem: “Ai de mim, meu desterro se
prolonga”, suspirando pela hora em que poderão dizer: “A cadeia se rompeu, e
nós ficamos livres” Salmo 119, 5. A alma quer voar para Deus, mas enquanto vive
neste mundo, está presa por uma cadeia que a segura aqui na terra, onde é
atormentada continuamente pelas tentações. Essa cadeia não se rompe senão com a
morte. Por isso, as almas que amam o Senhor suspiram pela morte que as tire do
perigo de perderem a Deus.
3. Em terceiro
lugar, Deus permite as tentações para nos enriquecer com méritos como
disse o anjo a Tobias: “Porque eras aceito a Deus, foi necessário que a
tentação te provasse” Tobias 12, 13.
Portanto, não devemos recear de estar sem a graça de Deus
pelo fato de sermos tentados; pelo contrário, então devemos esperar ser mais
amados por Deus.
É engano do demônio o fazer
certas almas fracas acreditarem que as tentações são pecados que mancham a alma. Não são os maus pensamentos que fazem
perder a Deus, mas sim os maus consentimentos. Por fortes que sejam as
tentações do demônio, por mais vivas que sejam as imaginações impuras
assaltando o nosso espírito, se nós não a queremos, não mancham a alma, mas a
tornam mais pura, mais forte e mais querida por Deus.
- Diz São Bernardo que todas
as vezes que vencemos as tentações, ganhamos um novo mérito: “Quantas vezes
vencemos, tantas vezes somos coroados”.
Não nos espantemos com o mau pensamento que não sai da
nossa cabeça e continua a nos atormentar; basta que o detestemos e procuremos
afastá-lo.
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII–
Santo Afonso Maria de Ligório
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