sexta-feira, 16 de maio de 2014

Plenitude (Santo Afonso)

13. A alma no céu está unida toda a Deus e o ama com todas as suas forças, com um amor consumado e perfeito. Esse amor, embora limitado, pois a criatura não é capaz de um amor infinito, é tal que a contenta e a satisfaz completamente. Ela nada mais deseja.
Deus, por sua vez, comunica-se e se une todo a alma, saciando-a na medida da capacidade dela e de seus méritos. Une-se a ela não já por meio de seus dons, luzes, atrativos de amor, como faz conosco nesta vida, mas com sua própria essência.
Assim como o fogo penetra o ferro e parece identificar-se com ele, assim também Deus penetra e preenche a alma. Embora não perca a sua personalidade, ela fica de tal modo repleta e abismada naquele mar imenso da substância divina, como que aniquilada e como se não existisse.
Era essa a felicidade que São Paulo pedia para os seus discípulos:
“Que sejais saciados de toda plenitude de Deus” Ef 3,19

14. É esse o fim último que o Senhor, na sua bondade, nos permite conseguir na outra vida. Enquanto a alma não chega a se unir a Deus no céu, onde se realiza a união perfeita, não pode ter aqui na terra o seu perfeito repouso.
É verdade que quem ama a Jesus Cristo encontra na conformidade com a vontade de Deus a sua paz, mas não encontra nesta vida o seu repouso completo. Este só se alcança atingindo o fim ultimo que é ver Deus face a face, e ser consumido por seu amor. Enquanto a alma não conseguir essa meta, ela permanece inquieta, sofre e suspira: “Eis que meu sofrimento se mudou em paz” Is 38,17.

            15. Sim, meu Deus, vivo em paz neste vale de lágrimas, porque essa é a vossa vontade; mas não posso deixar de sentir uma inexplicável amargura vendo-me longe de vós, ainda não perfeitamente unido convosco, minha meta, meu tudo, meu pleno repouso.
            Os santos, mesmo inflamados de amor de Deus neste mundo, suspiravam pelo céu. O rei Davi dizia: “Pobre de mim, meu desterro se prolongou... Saciar-me-ei, quando aparecer a vossa glória” Sl 119,5; 16,15.
- S.Paulo: “Desejo estar com Cristo” Fl 1,23.
- S.Francisco Assis: “É tão grande o bem que espero, que todo o sofrimento me é um prazer”. Todos esses são atos de perfeito amor.
- S.Tomás: O grau mais alto de caridade a que pode chegar uma alma nesta vida, é desejar intensamente ir unir-se com Deus e gozar dele no céu. Esse gozar de Deus no céu consiste não tanto em receber a felicidade dada por Deus, mas na felicidade do gozo de Deus, amado pela alma mais que a si mesma.

            16. O maior tormento das almas do purgatório é o desejo de possuir Deus que ainda não possuem. Esse sofrimento afligirá especialmente aqueles que durante a vida, desejaram pouco o céu.
- S.Roberto Belarmino fala de um “cárcere de honra” no purgatório, onde algumas almas não sofrem nos sentidos, mas somente a privação da visão de Deus. Esse sofrimento lhes é dado, não pelos pecados cometidos, mas pela frieza com que desejaram o paraíso.
            Muitas pessoas desejam a perfeição e depois encaram com demasiada indiferença o ir para o céu para ver a Deus, ou continuar vivendo aqui na terra. A vida eterna é um bem imensamente grande que Jesus Cristo mereceu com sua morte; por isso é justo o sofrimento para aqueles que a desejarem pouco em sua vida.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVI– Santo Afonso Maria de Ligório

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