13. A alma no céu está unida toda a
Deus e o ama com todas as suas forças, com um amor consumado e perfeito. Esse
amor, embora limitado, pois a criatura não é capaz de um amor infinito, é tal
que a contenta e a satisfaz completamente. Ela nada mais deseja.
Deus, por
sua vez, comunica-se e se une todo a alma, saciando-a na medida da capacidade
dela e de seus méritos. Une-se a ela não já por meio de seus dons, luzes,
atrativos de amor, como faz conosco nesta vida, mas com sua própria essência.
Assim como
o fogo penetra o ferro e parece identificar-se com ele, assim também Deus
penetra e preenche a alma. Embora não perca a sua personalidade, ela fica de
tal modo repleta e abismada naquele mar imenso da substância divina, como que
aniquilada e como se não existisse.
Era essa a
felicidade que São Paulo pedia para os seus discípulos:
“Que
sejais saciados de toda plenitude de Deus” Ef 3,19
14. É esse o fim último que o Senhor,
na sua bondade, nos permite conseguir na outra vida. Enquanto a alma não chega
a se unir a Deus no céu, onde se realiza a união perfeita, não pode ter aqui na
terra o seu perfeito repouso.
É verdade
que quem ama a Jesus Cristo encontra na conformidade com a vontade de Deus a
sua paz, mas não encontra nesta vida o seu repouso completo. Este só se alcança
atingindo o fim ultimo que é ver Deus face a face, e ser consumido por seu
amor. Enquanto a alma não conseguir essa meta, ela permanece inquieta, sofre e
suspira: “Eis que meu sofrimento se mudou em paz” Is 38,17.
15. Sim, meu
Deus, vivo em paz neste vale de lágrimas, porque essa é a vossa vontade; mas
não posso deixar de sentir uma inexplicável amargura vendo-me longe de vós,
ainda não perfeitamente unido convosco, minha meta, meu tudo, meu pleno
repouso.
Os santos, mesmo inflamados de amor de Deus neste mundo,
suspiravam pelo céu. O rei Davi dizia: “Pobre de mim, meu desterro se
prolongou... Saciar-me-ei, quando aparecer a vossa glória” Sl 119,5; 16,15.
- S.Paulo: “Desejo estar com
Cristo” Fl 1,23.
- S.Francisco Assis: “É tão
grande o bem que espero, que todo o sofrimento me é um prazer”. Todos esses são
atos de perfeito amor.
- S.Tomás: O grau mais alto de
caridade a que pode chegar uma alma nesta vida, é desejar intensamente ir
unir-se com Deus e gozar dele no céu. Esse gozar de Deus no céu consiste não
tanto em receber a felicidade dada por Deus, mas na felicidade do gozo de Deus,
amado pela alma mais que a si mesma.
16. O maior tormento
das almas do purgatório é o desejo de possuir Deus que ainda não possuem. Esse
sofrimento afligirá especialmente aqueles que durante a vida, desejaram pouco o
céu.
- S.Roberto Belarmino fala de
um “cárcere de honra” no purgatório, onde algumas almas não sofrem nos
sentidos, mas somente a privação da visão de Deus. Esse sofrimento lhes é dado,
não pelos pecados cometidos, mas pela frieza com que desejaram o paraíso.
Muitas pessoas desejam a perfeição e depois encaram com
demasiada indiferença o ir para o céu para ver a Deus, ou continuar vivendo
aqui na terra. A vida eterna é um bem imensamente grande que Jesus Cristo
mereceu com sua morte; por isso é justo o sofrimento para aqueles que a
desejarem pouco em sua vida.
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVI–
Santo Afonso Maria de Ligório
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