Mérito no
Sofrimento
6. Quantos méritos se podem ganhar só
em suportar com paciência as doenças! Suportando com paciência as dores de
nossas doenças, tecemos uma grande parte e talvez a maior parte da coroa que
Deus nos prepara no céu.
- S.Liduvina, depois de ter
suportado tantas doenças, tão dolorosas, desejava morrer mártir por Jesus
Cristo. Um dia, suspirando por esse martírio, entendeu que uma bela coroa,
ainda inacabada, estava sendo preparada para ela. Ansiosa para que fosse
terminada, suplicou ao Senhor o aumento de suas dores. Jesus a ouviu... sofreu
mais ainda e pouco depois morreu.
7.Para as pessoas que amam ardentemente a Jesus Cristo,
como são leves e agradáveis as dores e os desprezos! Por isso os mártires iam
ao encontro das torturas, unhas de ferro, chapas incandescentes e espadas, com
tanta alegria.
- S.Prosdócimo, mártir: “Atormentem-me
quanto quiserem, mas fiquem sabendo que para quem ama a Jesus Cristo não existe
coisa mais desejável do que sofrer por seu amor”
- S.Gordiano: “Tu que me
ameaças com a morte, mas o que me desagrada é que não posso morrer por Jesus
Cristo senão uma só vez”.
Mas, pergunto eu, por que os mártires falavam assim?
Porque eram insensíveis aos sofrimentos ou tinham perdido o juízo?
- Não, responde São Bernardo,
de maneira alguma, “Não foi a loucura que fez isso, mas sim o amor”. Eles não
eram loucos. Sentiam as dores dos tormentos, mas porque amavam a Deus,
consideravam grande vantagem sofrer e perder tudo, até mesmo a própria vida,
por amor de Deus.
Nossa morte
8.Principalmente no tempo da doença, devemos estar
prontos para aceitar a morte, aquela morte que é da vontade de Deus. Temos de
morrer. Nossa vida vai terminar na última doença e não sabemos qual delas nos
levará a sepultura. Portanto, é necessário que nos preparemos em todas as
enfermidades para abraçar a morte que Deus nos tem destinado.
- Algum doente poderá dizer:
- Mas eu fiz tantos pecados e nenhuma penitência! Queria viver,
não por viver, mas para dar alguma satisfação a Deus antes de morrer.
- Dize-me, meu irmão, como sabes que, vivendo, farás penitência e
não te comportarás pior que antes? Neste momento podes esperar que Deus te
tenha perdoado. Mas que melhor penitência do que aceitar com resignação a
morte, se Deus assim o quer?
- S.Luis Gonzaga que morreu
aos 23 anos, abraçou a morte alegremente, dizendo: “Encontro-me agora, assim
espero, na graça de Deus. Mais tarde não sei o que será de mim. Morro contente,
se nesta hora Deus quiser me chamar para a outra vida.
- S.João A’Vila dizia que uma
pessoa, encontrando-se com boas disposições, mesmo medíocres, deve desejar a
morte par sair do perigo em que sempre vivemos neste mundo, de poder pecar e
perder a graça de Deus.
9.Devido a nossa fragilidade, não podemos viver nesta
terra sem cometer, ao menos, pecados veniais. Por isso, ao menos, por esse
motivo, de não ofender a Deus, deveríamos abraçar com alegria a morte.
- Se amamos a Deus de verdade,
devemos ardentemente desejar vê-lo e amá-lo com todas as forças do céu. Isso
ninguém pode fazer perfeitamente nesta vida. Mas, se a morte não nos abre a
porta, não podemos entrar no paraíso.
- S.Agostinho: “Morra eu,
Senhor, para vos ver”.
- Senhor, fazei-me morrer
porque, se não morro, não posso vos amar e vos ver face a face.
A pobreza
10.Precisamos praticar a paciência, suportando a pobreza.
- É certo que é muito
necessário praticar a conformidade, quando nos faltam os bens materiais.
- S.Agostinho: “Quem não tem
Deus, não tem nada; quem tem Deus, tem tudo”. Possuindo Deus e estando unido a sua
vontade, encontramos nele todos os bens.
- S.Francisco: descalço,
vestido com uma roupa pobre, pobre de tudo e que ao dizer: “Meu Deus e meu
tudo”, achava-se o mais rico de todos os reis da terra. Chama-se pobre quem
deseja bens que não possui.
Mas quem não
deseja nada e está contente com sua pobreza, é perfeitamente rico.
- S.Paulo “Não tendo nada, mas
possuindo tudo” IICor 6,10. Quem ama a Deus de verdade, diz quando lhe faltam
os bens temporais: “Meu Jesus, só tu me bastas” e fica contente.
Os santos não só tiveram paciência na pobreza, mas
procuraram também desfazer-se de tudo, para viverem desapegados e unidos só a
Deus. Se não temos o espirito de renunciar a todas as coisas do mundo, ao menos
contentemo-nos com a situação em que o Senhor nos quer. Não tenhamos ansiedade
para adquirir as riquezas da terra, mas sim as do céu, imensamente maiores e
eternas. Convençamo-nos do que diz Santa Tereza: “Quanto menos tivermos aqui,
mais possuiremos lá”
11.S.Boaventura: A abundância dos bens temporais é um
empecilho para a alma, impedindo-a de voar para Deus. Pelo contrário, escreve
S.João Climaco que a pobreza é um meio de caminhar para Deus sem impedimentos.
“Bem aventurados os pobres de
espírito, porque deles é o reino dos céus” Mt 5,3 Para as outras bem
aventuranças, dos mansos, dos puros de coração, está prometido o céu, isto é, a
felicidade do céu é ainda nesta vida: ‘deles é o reino dos céus’. Ainda nesta
vida os pobres gozam de um paraiso antecipado. “Pobres de espírito” quer dizer:
não só são pobres das coisas da terra, mas também não as cobiçam. Vivem
contentes, possuindo o que lhes basta para se alimentar e se vestir. “Tendo,
pois, de que nos sustentar e cobrir, contentemo-nos com isto” ITm6,8
- S.Lourenço Justiniano:
“Feliz pobreza, que nada possui e nada tem! É sempre feliz e sempre abundante;
todos os incômodos que experimenta faz com que sirvam para o bem da alma”
- S.Bernardo: “O avarento está
sempre faminto como um mendigo, nunca chega a ficar satisfeito com os bens que
deseja. O pobre, como senhor de tudo, os despreza, pois não deseja nada”
12.Se a pobreza não fosse um grande bem, Jesus Cristo não
a teria escolhido para si, nem a teria deixado em herança para os seus preferidos.
De fato, os santos, vendo Jesus tão pobre, amaram tanto a pobreza.
- O próprio São Paulo nos
alerta contra a cobiça de enriquecimento como laço do demônio para perder os
homens: “Porque os que querem fazer-se ricos, caem na tentação e no laço do
demônio e em muitos desejos inúteis e perniciosos, que submergem os homens no
abismo da morte e da perdição”.
- Deus só nos baste!
Bastem-nos os bens que ele nos dá. Alegremo-nos de sermos pobres quando nos
faltar o que queríamos. Aí é que está o mérito: Não é pobreza que é considerada
virtude, mas sim o amor a pobreza.
- Muitos são pobres, mas
porque não amam a sua pobreza, não tem nenhum mérito.
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIV–
Santo Afonso Maria de Ligório
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