O amor tudo espera
7. A caridade tudo espera. A esperança cristã,
como ensina S. Tomás: “é a espera certa da felicidade eterna”. Tal certeza
nasce da promessa infalível de Deus em dar a vida eterna aos seus servos fiéis.
A caridade elimina o pecado, eliminando assim o
impedimento de conseguir o céu. Por isso, quanto maior é a caridade, maior e
mais firme se torna a nossa esperança; esta não pode certamente ser um
obstáculo ao amor de Deus. O amor tende naturalmente a união com a pessoa que
se ama, ele é como um laço de ouro que une os corações de quem ama e de quem é
amado. Não podendo essa união fazer-se a distância, quem ama deseja sempre a
presença do seu amado. A alma, descrita no Cântico dos Cânticos, definhava
afastada de seu amado; pedia as suas companheiras que lhe contassem o seu
sofrimento para que ele viesse consola-la com a sua presença: “Suplico-vos,
filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, dizei-lhe que estou doente de
amor” Ct 5,8.
Uma pessoa que ama muito a Jesus Cristo, enquanto vive
neste mundo, não deixa de desejar e esperar ir logo para o céu a fim de unir-se
com seu amado Senhor.
8. É puro e
perfeito amor o desejo de i ver Deus no céu. Não tanto pela felicidade que lá
experimentaremos em amá-lo, mas pelo prazer que lhe daremos amando-o.
A felicidade que os santos do céu sentem em amar a Deus,
não impede a pureza de sua caridade. Tal felicidade é inseparável do amor. Os
santos se satisfazem muito mais no amor que dão a Deus, do que no prazer que
sentem em ama-lo. Mas dirá alguém:
- Desejar uma recompensa é
ambição e não amizade.
- É necessário distinguir as
recompensas do céu prometida por Deus a quem o ama.
As recompensas que os homens dão distinguem-se das suas
pessoas, pois remunerando os outros, eles não se dão a si mesmos, mas somente
os seus bens; enquanto que a principal recompensa que Deus faz aos santos é
dar-se todo a eles: “Eu serei a tua recompensa extremamente grande” Gn 15,1.
Portanto, desejar o Paraíso é o mesmo que desejar a Deus, nosso fim ultimo.
9. Quero
apresentar aqui uma dúvida que facilmente pode vir a mente de uma pessoa que
ama a Deus e que procura em tudo fazer a sua santa vontade.
Se por acaso,
fosse revelada a uma pessoa a sua condenação eterna, ela estaria obrigada a
aceita-la para se conformar com a vontade de Deus?
Não, ensina S.Tomás. Chega até a afirmar que peca, se
consente nisso, porque consentiria em viver num estado unido ao pecado e
contrário ao fim último determinado por Deus. Deus não criou os homens para o
inferno onde o odeiam, mas para o céu onde o amam. Deus não quer a morte do
pecador, mas que todos se convertam e se salvem. “O Senhor não quer ninguém
condenado senão pelo pecado. por isso, se alguém, tivesse lavrado o decreto de
sua condenação, não se conformaria com a vontade de Deus, mas com a vontade do
pecado".
E se Deus, prevendo o pecado de alguém, tivesse lavrado o
decreto de sua condenação, e revelando-o a pessoa, estaria ela obrigada a
consentir nele?
“De modo algum.
Deveria entender aquela revelação, não como um decreto irrevogável, mas como
uma ameaça no caso de persistir no pecado.”
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVI–
Santo Afonso Maria de Ligório
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