sábado, 10 de maio de 2014

Amor tudo espera (Santo Afonso)

O amor tudo espera
7. A caridade tudo espera. A esperança cristã, como ensina S. Tomás: “é a espera certa da felicidade eterna”. Tal certeza nasce da promessa infalível de Deus em dar a vida eterna aos seus servos fiéis.
            A caridade elimina o pecado, eliminando assim o impedimento de conseguir o céu. Por isso, quanto maior é a caridade, maior e mais firme se torna a nossa esperança; esta não pode certamente ser um obstáculo ao amor de Deus. O amor tende naturalmente a união com a pessoa que se ama, ele é como um laço de ouro que une os corações de quem ama e de quem é amado. Não podendo essa união fazer-se a distância, quem ama deseja sempre a presença do seu amado. A alma, descrita no Cântico dos Cânticos, definhava afastada de seu amado; pedia as suas companheiras que lhe contassem o seu sofrimento para que ele viesse consola-la com a sua presença: “Suplico-vos, filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, dizei-lhe que estou doente de amor” Ct 5,8.
            Uma pessoa que ama muito a Jesus Cristo, enquanto vive neste mundo, não deixa de desejar e esperar ir logo para o céu a fim de unir-se com seu amado Senhor.

            8. É puro e perfeito amor o desejo de i ver Deus no céu. Não tanto pela felicidade que lá experimentaremos em amá-lo, mas pelo prazer que lhe daremos amando-o.
            A felicidade que os santos do céu sentem em amar a Deus, não impede a pureza de sua caridade. Tal felicidade é inseparável do amor. Os santos se satisfazem muito mais no amor que dão a Deus, do que no prazer que sentem em ama-lo. Mas dirá alguém:
- Desejar uma recompensa é ambição e não amizade.
- É necessário distinguir as recompensas do céu prometida por Deus a quem o ama.
            As recompensas que os homens dão distinguem-se das suas pessoas, pois remunerando os outros, eles não se dão a si mesmos, mas somente os seus bens; enquanto que a principal recompensa que Deus faz aos santos é dar-se todo a eles: “Eu serei a tua recompensa extremamente grande” Gn 15,1. Portanto, desejar o Paraíso é o mesmo que desejar a Deus, nosso fim ultimo.

            9. Quero apresentar aqui uma dúvida que facilmente pode vir a mente de uma pessoa que ama a Deus e que procura em tudo fazer a sua santa vontade.
             Se por acaso, fosse revelada a uma pessoa a sua condenação eterna, ela estaria obrigada a aceita-la para se conformar com a vontade de Deus?
            Não, ensina S.Tomás. Chega até a afirmar que peca, se consente nisso, porque consentiria em viver num estado unido ao pecado e contrário ao fim último determinado por Deus. Deus não criou os homens para o inferno onde o odeiam, mas para o céu onde o amam. Deus não quer a morte do pecador, mas que todos se convertam e se salvem. “O Senhor não quer ninguém condenado senão pelo pecado. por isso, se alguém, tivesse lavrado o decreto de sua condenação, não se conformaria com a vontade de Deus, mas com a vontade do pecado".
            E se Deus, prevendo o pecado de alguém, tivesse lavrado o decreto de sua condenação, e revelando-o a pessoa, estaria ela obrigada a consentir nele?
“De modo algum. Deveria entender aquela revelação, não como um decreto irrevogável, mas como uma ameaça no caso de persistir no pecado.”


 A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVI– Santo Afonso Maria de Ligório

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