terça-feira, 6 de maio de 2014

Amor a Palavra (Santo Afonso)

Quem ama a Jesus Cristo crê em todas as suas Palavras
1. Quem ama uma pessoa, acredita em tudo o que ela diz. Por isso, quanto maior é o amor de alguém a Jesus Cristo, tanto mais firme e viva é a sua fé. O bom ladrão, vendo nosso Redentor morrendo na cruz sem culpa e sofrendo com tanta paciência, começou a amá-lo. Movido por esse amor e iluminado pela luz divina, acreditou que ele era verdadeiramente o Filho de Deus; por essa razão pediu-lhe que se lembrasse dele, quando entrasse em seu reino.

2. A fé é o fundamento da caridade, mas depois é a caridade que aperfeiçoa a fé. Quem mais perfeitamente ama a Deus, mais perfeitamente crê. A caridade faz que o homem creia, não só com a inteligência, mas também com a vontade. Assim fazem os pecadores que sabem serem mais que certas as verdades da fé, mas não querem viver conforme os mandamentos divinos. Eles têm uma fé muito fraca. Se tivessem uma fé viva, crendo que a graça divina é um bem maior de todos os bens e que o pecado é um mal maior do que todos os males, por nos privar da graça de Deus, com certeza mudariam de vida.
Se preferem os míseros bens deste mundo em vez de Deus, é porque não creem ou creem muito fracamente. Os que acreditam não só com a inteligência, mas também com a vontade, de modo que não só creem, mas querem crer num Deus que se revela pelo amor que lhes tem, e gostam de crer em Deus, estes, sim, acreditam perfeitamente. Por isso procuram conformar sua vida com as verdades que creem.

Maus costumes
            3. A falta de fé, naqueles que vivem em pecado, não nasce da obscuridade da fé. Embora Deus tenha desejado que as coisas da fé nos fossem em grande parte incompreensíveis e ocultas, para que tivéssemos merecimento em crer, contudo as verdades de fé se tornam evidentes pelos sinais que as manifestam. Não acreditar nelas seria não só imprudência, mas também falta de religião e loucura.
            A fraqueza da fé de muitos nasce de seus maus costumes. Quem despreza a amizade de Deus para não se privar dos prazeres ilícitos, desejaria que não houvesse lei que os proibisse, nem castigo para os que pecam. Faz tudo para evitar a reflexão sobre as verdades eternas, a morte, o juízo, o inferno, a justiça divina. Tudo isso lhe causa muito medo e torna amargos os seus prazeres. Espreme, então, o cérebro procurando razões, ao menos prováveis, para se persuadir ou se convencer de que não existe alma, nem Deus, nem inferno. Assim poderiam viver e morrer como o animal que não conhece lei nem razão.

            4. A dissolução dos costumes é a fonte donde nascem e saem todos os dias tantos livros e sistemas materialistas, indiferentistas, deístas e naturalistas. Uns negam a existência de Deus; outros negam a Providência Divina, dizendo que Deus, depois de criar os homens, não se importa mais com eles, sendo-lhes indiferente se o amam ou se o ofendem, se os homens se salvam ou se perdem. Outros negam a bondade divina afirmando que Deus criou muitas almas para o inferno, forçando-as ele mesmo a pecarem para que assim se condenem e o amaldiçoem para sempre no fogo eterno.

            5. Tudo isso é ingratidão e maldade dos homens! Deus os criou por sua misericórdia para os fazer eternamente felizes no céu. Encheu-os de tantas luzes, benefícios e graças, para que alcançássemos a vida eterna. Para esse mesmo fim ele os remiu com tantas dores e com tanto amor. E os homens se esforçam por não acreditar em nada, para se entregarem aos vícios e viverem a vontade.
            Mas, não adianta! Por mais esforços que façam, nunca esses infelizes poderão libertar-se do remorso da má consciência e do temor da justiça divina. Certamente não poriam em dúvida as verdades de fé e acreditariam firmemente em todas as verdades reveladas por Deus, se deixassem os vícios e se dedicassem a amar a Jesus Cristo.

Verdades eternas
            6. Quem ama a Jesus Cristo de todo o coração, tem sempre diante dos olhos as verdades eternas e por elas regula suas ações.
            Quem ama a Jesus Cristo, entende muito bem o que diz a escritura: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” Eclo 1,2
            Toda a grandeza terrena é fumaça, engano e lodo; o único bem e felicidade de uma alma consiste em amar seu Criador e em fazer-lhe a vontade. Nós somos o que somos diante de Deus. De nada vale ganhar todo o mundo, se a alma se perde. Todos os bens da terra não podem contentar o coração do homem; só Deus o satisfaz; em resumo, é preciso deixar tudo para ganhar tudo!

            7. A caridade tudo crê. Há cristãos que não são perversos, como aqueles dos quais falamos, os quais não creem em nada para viverem nos vícios sem remorsos e com mais liberdade. Existem cristãos que acreditam, mas têm uma fé fraca. Creem nos sacrossantos mistérios, creem nas verdades reveladas do evangelho: a Santíssima Trindade, a Redenção, os Sacramentos e outras; mas não creem em todas.
            Jesus Cristo disse: “Felizes os pobres, felizes os que choram, felizes os que sofrem perseguições, felizes vós, quando vos amaldiçoarem e disserem todo o mal contra vós”. Foi assim que falou Jesus no Evangelho. Mas como se pode afirmar que creem no Evangelho os que dizem: “Felizes os ricos, felizes os que não sofrem, felizes os que procuram prazeres, infelizes os que são perseguidos e maltratados pelos outros?”. É forçoso dizer destas pessoas que, ou não creem no Evangelho ou só creem em parte.
            Quem crê em tudo, aceita como felicidade e graça de Deus o ser pobre, o estar doente, o ser mortificado, desprezado e maltratado pelos homens. Assim crê e assim fala quem crê em tudo o que o Evangelho diz. Essa pessoa tem o verdadeira amor a Jesus Cristo.

Oração
            Meu amado Redentor, vida de minha alma, eu creio que sois o único bem de ser amado. Creio que sois aquele que me tendes mais amor, porque chegastes a morrer consumido de dores por mim, só por amor.
            Creio que nem nesta vida nem na outra, não há maior felicidade do que vos amar e fazer a vossa vontade. Tudo isso creio firmemente e, por isso, a tudo renuncio par ser todo vosso e só a vós possuir. Ajudai-me pelos méritos de vossa paixão e fazei-me ser como desejais que eu seja.
Verdade infalível, eu creio em vós.
Misericórdia infinita, eu confio em vós.
Bondade infinita, eu vos amo.
Amor infinito que vos destes todo a mim na vossa paixão e no sacramento da Eucaristia, eu me dou todo a vós.
Também a vós me recomendo, Maria, Mãe de Deus, refúgio dos pecadores.
Amém.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XV– Santo Afonso Maria de Ligório

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