Quem ama a
Jesus Cristo crê em todas as suas Palavras
1. Quem ama uma pessoa, acredita em
tudo o que ela diz. Por isso, quanto maior é o amor de alguém a Jesus Cristo,
tanto mais firme e viva é a sua fé. O bom ladrão, vendo nosso Redentor morrendo
na cruz sem culpa e sofrendo com tanta paciência, começou a amá-lo. Movido por
esse amor e iluminado pela luz divina, acreditou que ele era verdadeiramente o
Filho de Deus; por essa razão pediu-lhe que se lembrasse dele, quando entrasse
em seu reino.
2. A fé é o
fundamento da caridade, mas depois é a caridade que aperfeiçoa a fé. Quem mais
perfeitamente ama a Deus, mais perfeitamente crê. A caridade faz que o homem
creia, não só com a inteligência, mas também com a vontade. Assim fazem os
pecadores que sabem serem mais que certas as verdades da fé, mas não querem
viver conforme os mandamentos divinos. Eles têm uma fé muito fraca. Se tivessem
uma fé viva, crendo que a graça divina é um bem maior de todos os bens e que o
pecado é um mal maior do que todos os males, por nos privar da graça de Deus,
com certeza mudariam de vida.
Se preferem
os míseros bens deste mundo em vez de Deus, é porque não creem ou creem muito
fracamente. Os que acreditam não só com a inteligência, mas também com a
vontade, de modo que não só creem, mas querem crer num Deus que se revela pelo
amor que lhes tem, e gostam de crer em Deus, estes, sim, acreditam
perfeitamente. Por isso procuram conformar sua vida com as verdades que creem.
Maus costumes
3. A falta de fé, naqueles que vivem em pecado, não nasce
da obscuridade da fé. Embora Deus tenha desejado que as coisas da fé nos fossem
em grande parte incompreensíveis e ocultas, para que tivéssemos merecimento em
crer, contudo as verdades de fé se tornam evidentes pelos sinais que as
manifestam. Não acreditar nelas seria não só imprudência, mas também falta de
religião e loucura.
A fraqueza da fé de muitos nasce de seus maus costumes. Quem
despreza a amizade de Deus para não se privar dos prazeres ilícitos, desejaria
que não houvesse lei que os proibisse, nem castigo para os que pecam. Faz tudo
para evitar a reflexão sobre as verdades eternas, a morte, o juízo, o inferno,
a justiça divina. Tudo isso lhe causa muito medo e torna amargos os seus
prazeres. Espreme, então, o cérebro procurando razões, ao menos prováveis, para
se persuadir ou se convencer de que não existe alma, nem Deus, nem inferno. Assim
poderiam viver e morrer como o animal que não conhece lei nem razão.
4. A dissolução dos costumes é a fonte donde nascem e
saem todos os dias tantos livros e sistemas materialistas, indiferentistas, deístas
e naturalistas. Uns negam a existência de Deus; outros negam a Providência
Divina, dizendo que Deus, depois de criar os homens, não se importa mais com
eles, sendo-lhes indiferente se o amam ou se o ofendem, se os homens se salvam
ou se perdem. Outros negam a bondade divina afirmando que Deus criou muitas
almas para o inferno, forçando-as ele mesmo a pecarem para que assim se
condenem e o amaldiçoem para sempre no fogo eterno.
5. Tudo isso é ingratidão e maldade dos homens! Deus os
criou por sua misericórdia para os fazer eternamente felizes no céu. Encheu-os
de tantas luzes, benefícios e graças, para que alcançássemos a vida eterna. Para
esse mesmo fim ele os remiu com tantas dores e com tanto amor. E os homens se
esforçam por não acreditar em nada, para se entregarem aos vícios e viverem a
vontade.
Mas, não adianta! Por mais esforços que façam, nunca
esses infelizes poderão libertar-se do remorso da má consciência e do temor da
justiça divina. Certamente não poriam em dúvida as verdades de fé e
acreditariam firmemente em todas as verdades reveladas por Deus, se deixassem
os vícios e se dedicassem a amar a Jesus Cristo.
Verdades eternas
6. Quem ama a Jesus Cristo de todo o coração, tem sempre
diante dos olhos as verdades eternas e por elas regula suas ações.
Quem ama a Jesus Cristo, entende muito bem o que diz a
escritura: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” Eclo 1,2
Toda a grandeza terrena é fumaça, engano e lodo; o único
bem e felicidade de uma alma consiste em amar seu Criador e em fazer-lhe a
vontade. Nós somos o que somos diante de Deus. De nada vale ganhar todo o
mundo, se a alma se perde. Todos os bens da terra não podem contentar o coração
do homem; só Deus o satisfaz; em resumo, é preciso deixar tudo para ganhar
tudo!
7. A caridade tudo crê. Há cristãos que não são
perversos, como aqueles dos quais falamos, os quais não creem em nada para
viverem nos vícios sem remorsos e com mais liberdade. Existem cristãos que
acreditam, mas têm uma fé fraca. Creem nos sacrossantos mistérios, creem nas
verdades reveladas do evangelho: a Santíssima Trindade, a Redenção, os
Sacramentos e outras; mas não creem em todas.
Jesus Cristo disse: “Felizes os pobres, felizes os que
choram, felizes os que sofrem perseguições, felizes vós, quando vos
amaldiçoarem e disserem todo o mal contra vós”. Foi assim que falou Jesus no
Evangelho. Mas como se pode afirmar que creem no Evangelho os que dizem: “Felizes
os ricos, felizes os que não sofrem, felizes os que procuram prazeres,
infelizes os que são perseguidos e maltratados pelos outros?”. É forçoso dizer
destas pessoas que, ou não creem no Evangelho ou só creem em parte.
Quem crê em tudo, aceita como felicidade e graça de Deus
o ser pobre, o estar doente, o ser mortificado, desprezado e maltratado pelos
homens. Assim crê e assim fala quem crê em tudo o que o Evangelho diz. Essa pessoa
tem o verdadeira amor a Jesus Cristo.
Oração
Meu amado Redentor, vida de minha alma, eu creio que sois
o único bem de ser amado. Creio que sois aquele que me tendes mais amor, porque
chegastes a morrer consumido de dores por mim, só por amor.
Creio que nem nesta vida nem na outra, não há maior
felicidade do que vos amar e fazer a vossa vontade. Tudo isso creio firmemente
e, por isso, a tudo renuncio par ser todo vosso e só a vós possuir. Ajudai-me
pelos méritos de vossa paixão e fazei-me ser como desejais que eu seja.
Verdade infalível,
eu creio em vós.
Misericórdia
infinita, eu confio em vós.
Bondade infinita,
eu vos amo.
Amor infinito que
vos destes todo a mim na vossa paixão e no sacramento da Eucaristia, eu me dou
todo a vós.
Também a vós me
recomendo, Maria, Mãe de Deus, refúgio dos pecadores.
Amém.
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XV–
Santo Afonso Maria de Ligório
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