A vocação e os pais
14. A escolha da vocação é chamada pelo
Pe. Granada de ‘roda mestra’. No relógio, estragada a roda mestra, todo o
relógio fica desacertado. Do mesmo modo, quando se trata da nossa salvação,
estando errada a nossa vocação, toda a nossa vida ficará desacertada. Tantos
pobres jovens perderam sua vocação por causa dos pais; tiveram um mau fim e se
tornaram a ruina da casa.
Certo jovem
perdeu a vocação religiosa por instigação de seu pai. Mais tarde teve com o
próprio pai grandes brigas, chegando a mata-lo com suas próprias mãos.
Finalmente, foi justiçado. Um outro, que frequentava o seminário, sentiu-se
chamado por Deus a deixar o mundo. Surdo a esse chamado, primeiro deixou a vida
piedosa que levava, a oração, a comunhão. Depois entregou-se aos vícios.
Finalmente, numa noite, ao sair da casa de uma mulher, foi morto por seu rival.
Veio o sacerdote, mas já o encontrou morto. Quantos exemplos semelhantes a este
eu poderia apresentar aqui!
15. S.Tomas aconselha aos vocacionados
a não se aconselharem com seus parentes porque, neste assunto, eles se tornam
verdadeiros inimigos. Ora, se os filhos não estão obrigados a se aconselhar com
os pais, muito menos estão obrigados a esperar a licença deles. Nem a pedir,
sempre que possam temer que provavelmente lhes será negada injustamente,
resultando com isso um impedimento para seguirem sua vocação. S. Tomas Aquino,
S. Pedro Alcântara, S. Francisco Xavier, S. Luiz Beltrão e muitos outros santos
abraçaram a vida religiosa sem avisarem a seus pais.
Vocação sacerdotal
16. Note-se
ainda que, assim como corre grande perigo de condenar-se quem não segue o
chamado de Deus só para satisfazer os pais, também corre grande risco quem se
ordena padre sem vocação, só para agradar seus parentes. São três os principais
sinais para se conhecer a verdadeira vocação sacerdotal:
·
A ciência competente;
·
A reta intenção de buscar só a Deus;
·
A boa conduta de vida.
- O Concilio de Trento,
falando especialmente da boa conduta, mandou aos bispos que não promovam as
ordens sacras a não ser os já aprovados na virtude e bons costumes. Isso jpa
tinha sido estabelecido por antigas prescrições canônicas. Isso se entende
principalmente da constatação externa que o bispo deve fazer a respeito da boa
conduta de quem vai ser ordenado. Mas, não se põe em duvida que o Concilio
exige e pede tanto a probidade exterior como a interior. Sem a interior, a
probidade exterior não passa de um puro engano e fingimento. Por isso admoesta
o Concilio: “Saibam os bispos que ninguém deve ser promovido as ordens sacras
sem ser digno, e sem que seu procedimento esteja de acordo com a probidade de
vida. Com a mesma intenção de ter provas completas sobre aquele que cai ser
ordenado, o Concilio estabeleceu ainda intervalos entre os diversos graus das
ordens “para que aumente neles, juntamente com a idade, a maturidade da vida e
a abundância do saber”.
Santidade de vida
17. Quem é
ordenado, é destinado ao ministério de servir a Jesus Cristo na Eucaristia; por
isso –diz S.Tomas- a santidade do sacerdote deve ser maior do que a do
religioso. Acrescenta ainda que as ‘ordens sacras’ preexigem santidade. A
palavra ‘preexigem’ supõe que o jovem deve ser santo já antes de ser ordenado. Indica,
então, o santo a diferença entre a vocação religiosa e a vocação de quem recebe
as ordens sacras. Na vida religiosa se purificam os vícios, mas querendo alguém
receber as ordens sacras, é preciso que se encontre já purificado por meio de
uma vida santa.
- Explicando esse mesmo
pensamento, diz “Como os que recebem as ordens sacras, são colocados acima do
povo, assim devem eles estar acima pelo mérito da santidade”. O santo exige
essa santidade de vida antes da ordenação, porque a julga necessária não só para
que se possa exercer dignamente entre os ministros de Cristo. Finalmente
conclui: “Na ordenação lhes é concedida maior abundância de graça para que, por
meio dela, possam tornar-se idôneos para coisas maiores.”
Notemos a expressão
“para coisas maiores”.
- S.Tomas declara que a graça
do sacramento, que depois se confere, não será inútil, mas dará ao ordenado
maiores auxílios para que se torne capaz de conquistar maiores méritos. Mas
exprime que no ordenado se requer a graça precedente, suficiente para torna-lo
digno de ser contado entre os membros do povo de Cristo.
Boa conduta
18. Sobre esse
assunto, escrevi uma longa exposição provando que se alguém recebe uma ordem
sacra sem a experiência de uma vida exemplar, não pode se isentar de uma grave
culpa. Isso porque abraça um estado de vida sem a vocação de Deus. Não se pode
dizer chamado por Deus quem se ordena sem estar livre de todo o vicio habitual,
especialmente contra a castidade. Embora possa receber o sacramento da
Penitência, por estar preparado através do arrependimento, em tal estado ainda
não está capacitado para receber as ordens sacras. Além disso é necessária já
antes a boa conduta, comprovada com a experiência há mais tempo.
Não pode,
igualmente, se isentar de pecado mortal quem, por grande presunção, assume os
sagrados ministérios sem a devida vocação. Grande perigo de condenação em
semelhante caso, ao se expor assim. “Quem conscientemente, sem ter em conta a
vocação de Deus” –como o faz um habituado a qualquer vicio grave- “entra como
intruso no sacerdócio, colocando-se em evidente perigo de condenação.”
- Falando do sacramento da
Ordem, Soto afirma: “Embora a boa conduta não seja da essência do sacramento,
ela é absolutamente necessária por preceito divino... tal idoneidade de costumes
não se identifica com a disposição geral exigida na recepção de qualquer
sacramento para que a graça não encontre obstáculo. O homem que abraça o
sacerdócio não só recebe a graça, mas abraça um estado de vida mais sublime.
Exige-se, pois, dele a honestidade de vida e o brilho das virtudes”. O mesmo
afirmaram Tomas Sanchez, P. Holzman e os Salmanticenses.
- O que acabo de escrever não
é opinião de algum doutor particular, mas opinião comum; todos se fundamentam
na doutrina por Santo Tomas.
Sequência da postagem “Coração vazio”
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XI–
Santo Afonso Maria de Ligório
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