O desprendimento
21. Quem deseja ser todo de Deus, deve
desprender-se a estima mundana. Quantos se afastam de Deus e quantos até o
perdem por causa desta maldita estima! Por exemplo, ouvindo falar de algum dos
próprios defeitos, fazem tudo para se justificar e fazer acreditar que é
falsidade e calunia o que dizem. Se praticam algum bem, o que não fazem para o
tornar conhecido de todos?
-
Desejariam que todo o mundo soubesse, para serem louvados.
- O modo de agir dos santos é
bem diferente. Gostariam que todo o mundo conhecesse seus defeitos para tê-los
como pobres pecadores, como eles mesmos se julgam. Se praticam alguma virtude,
gostariam que só Deus soubesse pois só a ele desejam agradar. Por isso, eles
amam tanto a vida escondida, lembrados do ensinamento de Jesus: “Quando das
esmola, não saiba tua mão esquerda o que fez a direita... Quando fazes oração,
entra no teu quarto, fecha a porta e reza a teu pai em segredo”
22. É preciso,
principalmente, desprendermo-nos de nós mesmos, isto é, de nossa própria
vontade. Quem vence a si mesmo facilmente vencerá todas as dificuldades.
S.Francisco Xavier costumava
das a todos o conselho: “Vence a ti mesmo”. Jesus mesmo disse: “Se alguém quer
me seguir, renuncie a si mesmo”
Nisso consiste tudo o que precisamos fazer para sermos
santos: renunciar a nós mesmos e não seguir nossa vontade própria, “Não te
deixes levar por tuas más inclinações, e refreia os teus apetites”
S.Francisco Assis: a maior
graça que uma pessoa pode receber de Deus é vencer a si mesma, renunciando a
própria vontade.
S.Bernardo: se os homens
fizessem guerra a vontade própria, ninguém se condenaria: “Desapareça a vontade
própria e não haverá inferno. Grande mal é a vontade própria que faz com que
tuas boas ações não sejam boas para ti”
- Assim seria se um penitente
quisesse fazer alguma mortificação, jejuns, mas contra a orientação de seu
diretor espiritual. Essa mortificação, realizada para seguir a própria vontade,
torna-se um defeito. Infeliz daquele que vive escravo da própria vontade.
Desejará muitas coisas e não poderá alcança-las: “Donde vem as lutas e questões
entre vós? Não vêm elas de vossas paixões que combatem em vossos membros?
Cobiçais e não recebeis: sois invejosos e ciumentos, e não conseguis o que
desejais” Tg 4, 1-2
- A primeira guerra vem-nos
das paixões sensuais. Fujamos das ocasiões, mortifiquemos nossos olhares,
encomendemo-nos a Deus e a guerra acabará.
- A segunda guerra vem-nos
da cobiça das riquezas. Esforcemo-nos por amar a pobreza, e a guerra
terminará.
- A terceira guerra vem-nos
da ambição pelas honras. Amemos a humildade, a vida oculta e a guerra
acabará.
- A quarta guerra, a mais
prejudicial, vem-nos da vontade própria. Sejamos resignados com a vontade
de Deus em tudo que acontece e a guerra chegará ao seu fim.
S.Bernardo: quando se vê uma
pessoa perturbada, a causa dessa perturbação não é outra coisa senão a
incapacidade de satisfazer a própria vontade: “Donde vem as perturbações, senão
do fato de seguirmos nossa vontade própria?”
União com Deus
23. É preciso
amar a Deus como ele quer, e não como nós queremos. Deus quer que o coração
esteja despojado de tudo, para se unir a ele e se saciar de seu amor.
S.Tereza: “A oração de
intimidade com Deus não é outra coisa senão um morrer quase total a todas as
coisas do mundo pra alegrar-se só em Deus. Quanto mais nos esvaziamos das
criaturas, quanto mais nos desprendemos delas por amor a Deus, tanto mais ele
nos saciará dele mesmo e mais estaremos unidos com ele”
Muitas pessoas desejam chegar a união com Deus, mas não
querem as dificuldades que Deus lhe permite. Não querem as doenças que as
afligem, nem a pobreza que sofrem, nem as ofensas que recebem. Sem a
resignação, jamais conseguirão unir-se perfeitamente a Deus.
S.Catarina Gênova: Para chegar
a união com Deus, são necessárias as dificuldades mandadas por Ele. Por meio
delas, Ele espera destruir em nós as paixões internas e externas. Por isso,
todos os desprezos, as doenças, a pobreza, as tentações, todas as dificuldades,
tudo nos é necessário. Assim teremos de lutar e por meio das vitórias, nossas
paixões se enfraquecerão a tal ponto, que não mais as sentiremos. Enquanto as
dificuldades não nos parecerem amargas, mas suaves por amor a Deus, não chegaremos
a união com Ele”
A Mortificação
24. S.João
Cruz diz que para a perfeita união com Deus ”é necessária a mortificação total
dos nossos sentidos e paixões. Qualquer que seja a satisfação que se apresente
aos nossos sentidos, se não é puramente para a glória de Deus, deve logo ser
afastada por amor a Jesus Cristo. Quanto aos nossos desejos, esforcemo-nos por
inclinarmo-nos para o pior, o mais desagradável, o mais pobre, sem desejar
outra coisa do que sofrer e ser desprezado”
Resumindo, quem ama verdadeiramente a Jesus Cristo, não
se apega aos bens da terra e procura despojar-se de tudo para se conservar
unido a Jesus Cristo. Para Jesus Cristo dirige todos os seus desejos, pensa
sempre nele, procura agradar-lhe em todo o lugar, em todo o tempo, em toa a ocasião.
Mas para se chegar a isso, é preciso esforçar-se
continuamente para esvaziar o coração de todo o afeto que não se dirige para
Deus.
Pergunto: O que deve fazer uma
pessoa que se dá toda a Deus?
·
Deve fugir de tudo que ofende a Deus e fazer
tudo o que mais lhe agrada.
·
Deve, depois, acolher sem exceção tudo o que vem
de suas mãos, por mais duro e desagradável que seja.
·
Deve, enfim, preferir em todas as coisas a
vontade de Deus e não a nossa própria vontade.
Isso é que requer para ser
todo de Deus.
Oração
Meu Deus e meu todo. Apesar de minhas ingratidões e
negligenciassem vos servir, continuas a me atrair ao vosso amor. Aqui estou,
não quero resistir mais. Quero renunciar a tudo ara pertencer só a vós. Além de
tudo, vós me tendes obrigado a vos amar. Eu me encantei convosco e quero a
vossa amizade.
Como posso amar outra coisa, depois de vos ter visto
morrer de dor numa cruz para me salvar? Como poderei contemplar-vos morto,
consumido nos sofrimentos, sem vos querer bem com todo o meu coração? – Sim,
Redentor meu, amo-vos com toda a minha alma e não tenho outro desejo senão vos
amar nesta vida e por toda a eternidade.
Amém.
Sequência da postagem “Santidade de vida”
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XI–
Santo Afonso Maria de Ligório
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