15. Qual é o meio mais seguro para
saber e aceitar em nossas ações o que Deus quer de nós?
- “Vale mais a obediência do
que o sacrifício” Eclo 4,17. Agrada mais a Deus a imolação que fazemos de nossa
vontade, sujeitando-a a obediência, do que todos os outros sacrifícios que
possamos lhe oferecer. Nas outras coisas, nas esmolas, nas abstinências,
mortificações e semelhantes, damos a Deus as nossas coisas, mas dando-lhe a
nossa vontade, é a nós mesmos que damos. Oferecendo-lhe os nossos bens, nossas
mortificações, damos-lhe uma parte; entregando-lhe nossa vontade,
entregamos-lhe tudo. Por isso, quando dizemos a Deus: ”Senhor, fazei-me
compreender pela obediência o que desejais de mim, quero fazer tudo”, nada mais
temos a lhe oferecer.
16. Quem se
sujeitou a obediência, deve desapegar-se da própria opinião. Diz S.Francisco
Sales que cada um de nós tem suas próprias opiniões e isso não se opõe a
virtude. O que se opõe a virtude é o apego que temos as nossas opiniões.
- Infelizmente este apego é a
coisa mais custosa de deixar. Por isso há tão poucas pessoas que se dão a Deus,
pois, são poucas que se sujeitam em tudo a obediência. Existe gente tão
agarrada a própria vontade que ao lhe ser ordenada alguma coisa, mesmo sendo de
seu gosto, pelo fato de a ter de realizar por obediência, perdem a vontade de a
executar.
- Os santos não são assim.
Eles encontram a tranquilidade nas ações mandadas pela obediência.
- S.Joana Chantal certa vez
permitiu as suas monjas que fizessem naquele dia o que mais desejassem. A
tarde, elas foram pedir-lhe insistentemente que nunca mais lhes desse tal
licença, porque nunca tinham passado um dia tão cheio de tédio como aquele em
que estavam desligadas da obediência.
17. É um erro
pensar em outra ação melhor do que a mandada pela obediência.
- S.Francisco Sales: “Deixar
uma ocupação mandada pela obediência para nos unir a Deus pela oração, pela
leitura ou recolhimento, seria afastar-se de Deus para nos unir ao nosso amor
próprio.”
- S.Tereza: “Quem faz alguma
coisa, mesmo sendo alguma coisa espiritual, mas contra a obediência, age
certamente por instigação do demônio e não por inspiração de Deus, como talvez
pense; porque as inspirações de Deus estão unidas a obediência... Deus não quer
outra coisa de uma alma que está resolvida a amá-lo, senão que obedeça.”
- Pe Rodrigues: “Vale mais uma
ação feita por obediência do que qualquer outra coisa que possamos imaginar.
Vale mais levantar uma palha do chão por obediência, do que uma longa oração e
uma disciplina sangrenta feita por nosso próprio arbítrio”
- S.Maia Madalena Pazi dizia
preferir um trabalho por obediência do que a própria oração. Com a obediência
estou segura de fazer a vontade de Deus, ao passo que não estou segura
dedicando-me a qualquer outra ocupação.
Conforme ensinam os mestres da vida espiritual, é melhor
deixar algum ato de piedade por obediência, do que fazê-lo sem obediência.
- S.Brigida afirma que alguém
deixando por obediência uma mortificação, lucra duplamente: alcança o mérito da
mortificação que desejava fazer e o mérito da obediência pela qual a deixou.
- Um dia o Padre Francisco
Árias foi visitar o amigo São João de Ávila e achou-o pensativo e triste.
Perguntando-lhe a razão, S.João, respondeu:
“Felizes de vós, que viveis
sob a obediência e estais seguros de fazer o que Deus quer. Quanto a mim, quem
me garante ser mais agradável a Deus percorrer as aldeias ensinando os pobres
camponeses, do que ficar parado num confessionário atendendo os que chegam?
Quem vive sob a obediência tem a certeza de que tudo o que faz para obedecer é
conforme a vontade de Deus, e é aquilo que mais agrada a ele” Sirva isso de
consolação a todos que vivem sob a obediência.
Obediência completa
18. Para que a
obediência seja perfeita, é preciso que haja nela a vontade e o discernimento.
Obedecer com a vontade é obedecer espontaneamente e não a força, como fazem os
escravos. Obedecer com discernimento é conformar nosso juízo com o do superior
sem discutir o que nos manda nem como no-lo manda.
- S.Maria Madalena Pazzi: “A
perfeita obediência exige uma alma sem juízo próprio”
- S.Felipe Neri: Para obedecer
bem, não basta fazer só o que se manda; é preciso fazê-lo sem controvérsia,
tendo por certo que a coisa mandada para nós é a mais perfeita que podemos
fazer, ainda que o contrário fosse melhor diante de Deus.
19. O que
dissemos vale não só para os religiosos, mas também para os leigos na
obediência a seus diretores espirituais. Devem pedir a eles as orientações a
que se devem sujeitar nas realizações, tanto espirituais como temporais. Assim
estão sempre seguros de fazer o que é melhor.
- S.Felipe Neri: “Os que
desejam avançar no caminho de Deus, sujeitem-se a um sábio confessor e
obedeçam-lhe como a Deus. Quem assim
faz, fica seguro de não prestar contas a Deus das ações que faz... devemos
confiar no confessor, pois o Senhor não deixaria errar. Não há coisa mais
segura para escapar dos lações do demônio, do que fazer a vontade alheia nas
coisas boas. Não há coisa mais perigosa do que querer se dirigir pelo próprio
parecer.”
- S.Francisco Sales falando da
direção espiritual diz que “Este é o conselho dos conselhos. Por mais que procureis,
jamais será encontrada a vontade de Deus tão seguramente como pelo caminho
dessa humilde obediência, tão recomendada e praticada por todas as pessoas
piedosas do passado”
-S.João Cruz: “Não se
contentar com o que diz o confessor é orgulho e falta de fé”
Entre os ensinamentos de S.Francisco de Sales, existem
dois que consolam muito as pessoas escrupulosas:
1º. Nunca
se perdeu um verdadeiro obediente;
2º. Devemos
nos contentar em saber do diretor espiritual que andamos bem, sem nos preocupar
em saber como.
- O escrupuloso é obrigado
gravemente, a agir contra seus escrúpulos, quando há motivo de temer um dano
grave para a alma ou para o corpo. Por isso, os escrupulosos devem ter maior
escrúpulo de não obedecer ao seu confessor do que em ir contra próprio escrúpulo.
- Eis o resumo de nossa
salvação e perfeição:
1º. Renunciarmos
a nós mesmos;
2º. Seguir
a vontade de Deus;
3º. Pedir-lhe
sempre que nos dê a força para cumprir uma e outra coisa.
Oração
“Fora de vós, o que há para
mim no céu? Se vos possuo, nada mais me atrai na terra... A rocha de meu
coração e minha herança eterna é Deus”
- Redentor meu, digno de ser
amado infinitamente, descestes do céu para vos dar todo a mim. A quem devo
procurar na terra ou no céu senão a vós, o maior bem, o único bem de ser amado?
- Sede, portanto, o único
Senhor de meu coração, apossai-vos dele. Que a minha alma só a vós ame, a vós
obedeça, a vós procure agradar.
- Gozem os outros das riquezas
do mundo; eu quero só a vós.
- Sois e sereias a minha
riqueza nesta vida e na eternidade.
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIII–
Santo Afonso Maria de Ligório
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