8. Muitas pessoas inventam para si uma
santidade conforme sua inclinação:
·
Quem é melancólico faz a santidade
consistir no viver sozinho;
·
quem é
ativo, em pregar e fazer reconciliações;
·
os de gênio austero, em fazer penitência
e mortificações;
·
os de temperamento bondoso, em dar
esmolas;
·
alguns em visitar santuários;
·
outros em fazer muitas orações vocais.
- Os atos externos são frutos
do amor a Jesus Cristo. Mas, o verdadeiro amor consiste em nos conformar em
tudo com a vontade de Deus, em renunciar a nós mesmos e em preferir que o que
mais agrada a Deus, somente porque ele o merece.
9. Há os que
querem servir a Deus, mas em tal emprego, em tal lugar, com tais companheiros
ou em tais circunstancias. Se assim não for, ou deixam o trabalho ou o fazem de
má vontade. Essas pessoas não têm a liberdade de espírito; são escravas do amor
próprio, ganhando pouco merecimento do que fazem. Vivem sempre inquietas
porque, estando presas a própria vontade, o jugo de Cristo se lhes torna
pesado.
Quem ama de
verdade a Jesus Cristo, ama só o que lhe agrada, quando, onde e como ele quer;
seja em trabalhos importantes ou em ocupações simples e humildes, numa vida
distinta no mundo ou escondida e desprezada. Isso é o que exige o amor a Jesus
Cristo.
Nisso
devemos nos esforçar, combatendo as ambições do amor próprio que quereria
ver-nos ocupados somente em trabalhos gloriosos ou de acordo com nossas
inclinações. De que adianta ser neste mundo a pessoa mais honrada, mais rica, a
maior de todas, sem a vontade de Deus?
- Dizia Henrique Suso:
“Preferiria ser um mísero verme da terra por vontade de Deus, do que um anjo do
céu por minha própria vontade”
10. Jesus
Cristo: “Muitos me dirão: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome, e em
teu nome expulsamos os demônios, em teu nome fizemos muitos milagres?’ Mas o
Senhor lhes responderá: ‘Nunca vos conheci, afastai-vos de mim, vós que
praticais a iniquidade’” Mt 7, 22-23. Retirai-vos, nunca vos reconheci por meus
discípulos, porque preferistes a vossa inclinação e não aminha vontade.
- Isso se aplica especialmente
aqueles sacerdotes que se gastam pela salvação e perfeição dos outros e, no
entanto, vivem no pântano de suas próprias imperfeições.
- A santidade consiste:
1º. Numa
verdadeira renúncia de si mesmo;
2º. Numa
total mortificação das próprias paixões;
3º. Numa
perfeita conformidade com a vontade de Deus.
- Quem falha numa dessas
virtudes, está fora do caminho da perfeição. Por isso, dizia um grande servo de
Deus que era melhor colocar como finalidade das nossas ações a vontade de Deus,
do que a sua glória. Pois, fazendo sua vontade, buscamos também a sua glória.
Mas, propondo-nos a glória de Deus, muitas vezes nos enganamos fazendo a nossa
vontade, com o pretexto da glória de Deus.
- S.Francisco Sales: “São
muitos os que dizem ao Senhor: eu me dou todo a vós sem reservas; mas são
poucos os que aceitam a prática desse abandono. Esse abandono consiste numa
certa indiferença para receber qualquer acontecimento conforme a Divina
Providência nos mandar, sejam aflições ou consolações, sejam desprezos e
injurias ou honras e louvores.”
Amor no sofrimento
11. Portanto,
é só no sofrer e no abraçar com alegria as coisas desagradáveis e contrárias ao
nosso amor próprio que se conhece quem ama de verdade a Jesus Cristo.
- Tomás Kempis: “Quem não está
pronto a sofrer tudo pela pessoa amada e a seguir sempre sua vontade, não
merece o nome de verdadeiro amigo”
- Corre velozmente para Deus
que, de boa vontade, se conforma com a vontade divina em tudo.
- S.Tereza: “Que maior
vantagem pode haver, do que ter alguma prova de que damos alegria a Deus”. Não
podemos ter maior garantia de agradarmos a Deus, do que aceitando de boa
vontade as cruzes mandadas por ele. O Senhor aceita de bom grado nossos
agradecimentos pelos benefícios que nos fez neste mundo. Mas diz S.João Ávila
que vale mais um ‘bendito seja deus’ nas contrariedades, do que seis mil
agradecimentos na alegria.
12. É preciso
notar ainda, que não só devemos receber com resignação as provações vindas
diretamente de Deus, tais como as doenças, a nossa limitação, a perda acidental
de alguma coisa, mas também tudo o que nos vem indiretamente de Deus e
diretamente dos homens: as perseguições, os roubos, as injurias. Na verdade,
tudo nos vem de Deus.
Certa vez o rei Davi foi injuriado por um súdito seu de
nome Semei que o maltratou com palavras ofensivas e até com pedradas. Um dos
seus soldados quis cortar a cabeça do atrevido, mas Davi observou a humildade:
“Deixai-o maldizer; o Senhor lhe ordenou que maldissesse a Davi” IISam 16,10,
isto é, Deus serve-se deste homem para castigar os meus pecados; por isso
permite que me injurie assim.
13. S.Maria
Madalena Pazzi dizia que todas as nossas orações não devem ter outra finalidade
a não ser alcançar de Deus a graça de seguir em tudo a sua santa vontade.
- Certas pessoas, ávidas de
satisfações espirituais, nada mais fazem na sua oração do que procurar
sentimentos agradáveis e ternos, para se deliciarem neles. As almas fortes e desejosas
de pertencer só a Deus não lhe pedem senão luz para discernir sai vontade e
força para a cumprir perfeitamente. Para alcançar a perfeição do amor, é
necessário sujeitar em tudo nossa vontade a vontade de Deus.
- S.Francisco Sales: “Não
penseis já ter chegado a perfeição que deveis possuir, enquanto vossa vontade
não estiver completamente, mesmo nas coisas mais difíceis, submissa alegremente
a vontade de Deus”
- S.Tereza: A entrega de nossa
vontade a Deus o faz unir-se a nossa pequenez”
- Mas isso jamais poderá ser
conseguido, senão através da oração mental ou meditação, e de súplicas
contínuas a sua divina Majestade, com um verdadeiro desejo de ser todo, sem
reservas, de Jesus cristo.
14. Coração
bondoso de meu Salvador, Coração apaixonado pelos homens, que nos amais cm
tanta delicadeza;
Coração merecedor de reinar e
de possuir todos os nossos corações. Quem me dera fazer todos compreenderem o
amor que lhes tendes e a bondade que manifestais com aqueles que vos amam sem
reservas!
- Jesus, dignai-vos aceitar a
oferta e o sacrifício que hoje vos faço de toda a minha vontade. Fazei-me
compreender o que desejais de mim; quero fazer tudo com a vossa graça.
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIII–
Santo Afonso Maria de Ligório
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