Quem ama a Jesus Cristo só quer o que Ele
quer
1. A caridade anda sempre unida com a
verdade. Por isso, a caridade, reconhecendo a Deus como único e verdadeiro bem,
detesta o mal por ser oposto a vontade divina e não se alegra com nada que não
seja a vontade de Deus. Quem ama a Deus, pouco se preocupa do que digam, e só
procura fazer o que agrada a Deus. “Quem se esforça por satisfazer a verdade
realmente está bem com Deus; e não se importa, qualquer que seja o modo, em que
seja tratado ou julgado pelos homens”.
2. Já temos dito muitas vezes que toda
a santidade e perfeição de uma alma consiste em renunciar a si mesma e em
seguir a vontade de Deus. Mas aqui convém falar disso mais expressamente. Se
queremos ser santos, todo o nosso esforço deve ser de nunca seguir nossa
vontade, mas sempre a vontade de Deus; o resumo de todos os preceitos e
conselhos divinos se reduz em fazer e sofrer aquilo que ele quer e como ele
quer. Peçamos, portanto, ao Senhor que nos dê a santa liberdade de espírito. A
liberdade de espírito faz-nos abraçar todas as coisas que agradam a Jesus
Cristo, apesar de qualquer repugnância do amor próprio ou do respeito humano. O
amor a Jesus Cristo coloca aqueles que o têm, numa total indiferença. Para eles
tudo é igual, o doce e o amargo: não querem nada do que lhes agrada e querem
tudo o que agrada a Deus. Com a mesma paz se ocupam nas coisas grandes e nas
pequenas, nas agradáveis e nas desagradáveis. Basta-lhes agradarem a Deus.
3. S.Agostinho: “Ame a Deus e faze o
que quiseres” Quem ama a Deus de verdade não procura senão agradar a Deus.
- S.Tereza: “Quem procura agradar
a quem ama, anda contente com tudo que o agrada. Quando o amor é perfeito, tem
a força de fazer a pessoa esquecer toda a vantagem própria e toda a satisfação.
Faz tudo para dirigir os seus pensamentos a fim de agradar aquele que ama. Procura
honrá-lo como pode, por si mesmo e através dos outros. Ah! Meu Senhor! Todo o
mal nos vem de não termos os olhos fixos em vós! Se não pensássemos senão em
caminhar, em breve chegaríamos ao fim. Mas caímos e tropeçamos mil vezes e,
ainda mais, erramos o caminho porque não olhamos com atenção a verdadeira
estrada” Eis contudo, qual deve ser a única finalidade de todos os nossos
pensamentos, ações, desejos e orações: agradar a Deus. Nosso caminho para a
santidade deve ser esse, andar junto com a vontade de Deus.
Senhor, o que desejais?
4. Deus quer
que o amemos de todo o coração: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o coração”.
Ama a Jesus Cristo de todo o coração quem lhe diz de verdade, como disse São
Paulo: “Senhor, que quereis que eu faça?” Atos 9,6 Senhor, fazei-me conhecer o
que desejais de mim, pois eu quero fazer tudo. Estejamos certos de que,
querendo o que Deus quer, estamos querendo nosso maior bem. É coisa certa, Deus
não quer senão o que é melhor para nós.
- S.Vicente Paulo: “A conformidade
com a vontade divina é o tesouro do cristão e o remédio para todos os seus
males, porque contém a renuncia de si mesmo, a união com Deus e todas as
virtudes”. Eis, em resumo, onde está toda santidade: “Senhor, que quereis que
eu faça?” Jesus mesmo nos promete: “Não se perderá um só cabelo de vossa cabeça”,
o que quer dizer, o Senhor recompensa todo o pensamento que tenhamos de lhe
agradar, toda a tribulação que aceitemos com boa intenção, conformando-nos com
sua santa vontade.
- S.Tereza: “O Senhor nunca
nos manda um sofrimento sem nos recompensar com alguma graça, desde que o
aceitemos com resignação”
5. Nossa
conformidade com a Vontade divina deve ser total, sem condição, constante e
irrevogável. Nisso consiste o máximo da perfeição, e repito, a isto devem
tender todas as nossas ações, todos os nossos desejos, todas as nossas preces. Algumas
pessoas piedosas, lendo os êxtases e arroubos de Santa Tereza, São Felipe e
outros santos, desejariam ter essas experiências espirituais. Esses desejos
devem ser rejeitados porque são contrários a humildade. Se queremos ser santos,
procuremos a verdadeira união com Deus que é unir totalmente nossa vontade a
vontade Dele.
- S.Tereza: “Enganam-se aqueles
que acreditam que a união com Deus consiste em êxtases, arroubos espirituais e
gozo de Deus. Ela não consiste em outra coisa, senão em sujeitar nossa vontade
a vontade de Deus. Essa sujeição é perfeita quando nossa vontade está
desprendida de tudo, e unicamente unida a vontade de Deus. Essa é a verdadeira
e indispensável união que sempre tenho desejado e continuamente peço ao Senhor.
Oh! Quantos de nós dizem isto; e realmente parece que não queremos, senão isso.
Mas, pobres de nós! Como são poucos os que chegam a isso!” É verdade, muitas
vezes dizemos: “Senhor, dou-vos toda a minha vontade, não quero senão o que vós
quereis”. Mas, quando depois vêm as contrariedades, não sabemos aceitar a
vontade divina. Lastimamos a má sorte que temos neste mundo, dizemos que todas
as desgraças caem sobre nós, e que levamos uma vida infeliz.
Tudo em Deus
6. Se
estivermos unidos a vontade divina em todas as tribulações, é certo, vamos nos
tornar santos e seremos os mais felizes do mundo. Por isso todo o nosso esforço
deve ser este: manter nossa vontade unida a vontade de Deus em todas as coisas
que acontecem, tanto agradáveis como desagradáveis. “Não te deixes mover por
todos os ventos”. Alguns fazem como os bandeirolas que se voltam para onde
sopra o vento. Se o vento é favorável, como desejam, andam alegres e
tranquilos. Mas se o vento é contrario e as coisas não acontecem como querem,
andam todos tristes e impacientes. É por isso que não se santificam e levam uma
vida infeliz, já que neste mundo acontecem muito mais coisas desfavoráveis do
que favoráveis.
- S.Doroteu diz que o receber das
mãos de Deus todas as coisas, como quer que aconteçam, é um grande meio para
conservarmos a paz contínua e tranquilidade do coração. Conta o santo que os
antigos monges do deserto não ficavam irados e melancólicos, porque tudo o que
lhes acontecia eles aceitavam alegremente como das mãos de Deus. Feliz aquele
que vive inteiramente unido e abandonado a vontade de Deus. Não fica orgulhoso
com seus sucessos, nem fica desanimado com os fracassos, pois sabe que tudo vem
da mesma mão de Deus. Só a vontade de Deus é a regra de seu desejo; por isso
faz o que Deus quer e quer o que Deus faz. Não se preocupa em fazer muitas
coisas, mas procura realizar perfeitamente aquilo que acha ser a vontade de
Deus. Por isso coloca as menores obrigações de seu estado antes das ações mais
grandiosas e gloriosas, porque percebe que nestas pode haver lugar para o amor próprio,
enquanto que naquelas se encontra certamente a vontade de Deus.
7. Portanto,
seremos felizes, se recebermos de Deus todas as coisas em perfeita conformidade
com a vontade divina, sem nos importarmos são conformes ou contrárias ao nosso
gosto.
- S.Joana Chantal: “Quando
chegaremos a saborear a doçura da vontade divina em tudo que nos acontece, não
tendo em conta senão a vontade divina? É certo que, com igual amor e para nosso
maior proveito, nos são dadas tanto as desgraças como as prosperidades. Quando nos
abandonaremos inteiramente nos braços de nosso bondosíssimo Pai, confiando-lhe
o cuidado de nossas pessoas e de nossos trabalhos, reservando para nós somente
o desejo de agradar a Deus?
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIII–
Santo Afonso Maria de Ligório
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