Quem ama a Jesus Cristo,
foge da tibieza, ama a perfeição e os meios
de alcança-la
1.
S.Gregório, ao explicar essa frase, diz que a caridade, que só se ocupa como
amor a Deus, rejeita tudo o que não é correto e santo.
- A caridade é o laço que
junta a alma as virtudes mais perfeitas:
“Revesti-vos da
caridade que é vinculo da perfeição” Cl 3,4
- A caridade ama a perfeição e
por isso detesta a tibieza; algumas pessoas servem a Deus na tibieza com grande
perigo de perder a caridade, a graça divina, a alma e tudo.
A tibieza
2. Há duas espécies de tibieza, uma evitável outra
inevitável. A tibieza inevitável é aquela da qual nem os santos estão livres.
Ela abrange todas as faltas cometidas sem plena deliberação, mas só pela nossa
fragilidade humana:
·
distrações na oração, perturbações interiores,
palavras inúteis, vã curiosidade, desejo de se mostrar, gosto no comer e beber,
movimentos de sensualidade não controlados prontamente, e tantos outros.
- Essas faltas, devemos
evita-las quando pudermos; mas devido a fraqueza de nossa natureza humana,
corrompida pelo pecado, é impossível evita-las todas. Devemos, sim, nos
arrepender quando fazemos estes pecados, pois desgostam a Deus, mas não devemos
nos perturbar por causa delas.
- S.Francisco Sales: “Todos os
pensamentos que nos trazem inquietação não são de Deus, príncipe da paz, mas
nascem sempre ou do demônio ou do amor próprio ou da estima de nós mesmos.”
3. Portanto, é preciso nos afastar logo e não fazer caso
desses pensamentos que nos inquietam. As faltas irrefletidas, feitas sem
querer, também sem querer se apagam. Basta para isso um ato de arrependimento
ou um ato de amor. Certa monja beneditina fala de uma chama de fogo, na qual,
se jogarmos palhas, tornam-se cinzas. Com tal figura, ela queria explicar como
um ato fervoroso de amor a Deus destrói todas as faltas em nossa alma. Esse
mesmo efeito produz a sagrada comunhão, chamada ‘remédio’ que nos preserva dos
pecados de cada dia. Essas faltas não deixam de ser faltas, mas não impedem
nossa santificação, isto é, o caminhar para a perfeição; nesta vida ninguém
chega perfeição, antes de entrar no céu.
Tibieza evitável
4. A
tibieza, que impede nossa santificação, é aquela que chamamos de evitável: cometer
pecados veniais refletidos.
- Todos esses pecados
cometidos de olhos abertos, bem que podemos evita-los em nossa vida, com a
graça de Deus.
- S.Tereza: “Que Deus nos
livre dos pecados deliberados, por pequeno que seja.”; “Esses pecados são como
vermes que não se deixam conhecer enquanto não roerem as virtudes em nós... Com
as coisas pequenas o demônio vai abrindo buracos onde entram as coisas
grandes.” Por exemplo:
·
mentiras voluntárias, pequenas murmurações,
imprecações, ressentimentos, caçoar do próximo, palavras picantes, vaidade,
antipatias nutridas no coração, afeição desordenada a pessoas do outro sexo.
5. Por isso
devemos recear cometer tais pecados deliberados. Por causa deles, Deus diminui
as luzes mais claras no coração, seu socorro mais forte, e nos tira o consolo
espiritual da alma. Por isso é que uma pessoa faz contrariada e com muito custo
os atos de piedade. Depois começa a deixar a oração, a comunhão, as visitas a
Jesus Eucaristia, as devoções; finalmente deixará tudo como já tem acontecido
muitas vezes a tantas pessoas infelizes.
6. É o que
significa aquela ameaça feita pelo Senhor as pessoas tíbias: “Não és frio nem
quente, oxalá fosses frio ou quente! Porque és morno, nem frio nem quente,
estou para te vomitar da minha boca” AP 3,15
- Notemos bem: “oxalá fosses
frio!” Como? É melhor ser frio, isto é, despojado da graça de Deus do que ser
desleixado? É verdade; de certo modo é melhor ser frio, porque quem é frio pode
mais facilmente corrigir-se tocado pelo remorso da consciência. A pessoa tíbia
espiritualmente acostuma-se a ficar dormindo nas suas faltas, não pensa nos eu
mal, não pensa em se emendar, e assim a sua cura se torna quase desesperada.
- S.Gregório: “A tibieza que
deixou o fervor, cai no desespero.”
- Pe.Luís da Ponte dizia que,
em sua vida, tinha cometido muitas falas, mas que nunca tinha feito as pazes
com elas.
- Algumas pessoas fazem as
pazes com suas faltas. A ruina vem daí, principalmente quando a falta se junta
com alguma paixão de apego a si mesmo, desejo de se mostrar, de ajuntar
dinheiro, ódio ao próximo ou um afeto desordenado a uma pessoa do outro sexo.
- S.Francisco Assis: “Então a
um perigo de que os cabelos dessa pessoa tornem-se para ela laços que a
arrastam para o inferno.” Pelo menos, ela não se tornará santa e perderá o
prêmio para ela preparado por Deus, se tivesse sido fiel a graça. Um passarinho
quando é solto do laço, logo voa livremente; a pessoa quando está livre de todo
apego deste mundo, voa depressa para Deus. Mas, se estiver presa, qualquer
pequeno fio bastará para impedi-la de caminhar para Deus. Quantas almas não se
fazem santas, porque não se esforçam para se desprenderem de certas afeições
passageiras!
7. Todo o
mal vem do pouco amor que se tem a Jesus Cristo. Aqueles que estão cheios de si
mesmo; os que se irritam com tudo que é contrário aos seus caprichos; os
tolerantes consigo mesmos por medo de perderem a saúde; aqueles que têm o
coração aberto para as coisas externas e o espírito sempre distraído pela ânsia
de ouvir e saber tanta coisa alheia ao serviço de Deus e que servem somente
para contentar a própria vontade; os que se ressentem com a menor desatenção
que julgam ter recebido de alguém, perturbam-se facilmente, deixam a oração e o
recolhimento; ora muito devotos e alegres, ora tristes e impacientes, conforme
as coisas acontecem de acordo ou contra sua vontade; todas essas pessoas não
amam, ou amam muito pouco a Jesus Cristo e desacreditam a verdadeira piedade
cristã.
Deixar a Tibieza
8. O que deve fazer quem se encontra neste lastimável estado
de tibieza? De fato, é uma coisa bem difícil que uma pessoa recupere a antiga
piedade? O que não podem os homens, Deus pode muito bem: “O que é impossível aos
homens, é possível a Deus” Quem reza e usa dos meios necessários alcançará tudo
quanto deseja.
- Os meios para deixar a
tibieza e caminhar na perfeição são cinco:
·
o desejo de perfeição,
·
a decisão de alcança-la,
·
a
meditação,
·
a comunhão frequente,
·
a oração.
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap VIII–
Santo Afonso Maria de Ligório
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