A dor e o céu
7. Dizia São José Calazans: “Para
ganhar o céu, todo sofrimento é pouco”
- S. Paulo: “Os sofrimentos do
tempo presente não têm proporção com a glória que deverá se revelar em nós” Rm
8,18
- Seria uma grande vantagem
sofrer a vida inteira todos os tormentos sofridos pelos mártires, só para
gozarmos um momento do céu. Com maior razão devemos então abraçar as nossas
cruzes, sabendo que os sofrimentos desta vida curta nos farão conquistar uma
felicidade eterna.
“As nossas
tribulações do momento são leves
e nos preparam um
peso de glória eterna” IICor4,17.
- S. Agapito, mocinho de poucos
anos, quando foi ameaçado de morte, respondeu: “Que maior felicidade posso eu
ter do que a de perder a minha cabeça para vê-la depois coroada no céu?
- S. Francisco costumava
sempre dizer:
“O bem que espero é tão grande que todo sofrimento é prazer para
mim”
- Para obter o paraíso é
preciso lutar e sofrer. “Se sofremos com Cristo, com ele reinaremos”. Não pode
haver prêmio sem merecimento, nem merecimento sem paciência. “Não recebe a
coroa, se não aquele que lutou segundo as regras do jogo” Terá maior coroa quem
combate com maior paciência. Coisa admirável! Quando se trata dos bens
temporais desta terra, os mundanos procuram conquistar o máximo de coisas possíveis.
Quando se trata dos bens eternos, dizem que basta um cantinho no paraíso. Esse não
foi o comportamento dos santos. Nesta vida contentaram-se com qualquer coisa e
desapegaram-se dos bens terrenos. Tratando-se dos bens eternos, eles procuraram
ganhar o mais possível. Agora eu lhes pergunto: quem age com mais sabedoria e
prudência?
8. Falando desta vida, é certo
que quem padece com mais paciência vive com mais paz.
- Dizia S. Felipe Neri que
neste mundo não há purgatório; ou é paraíso ou é um inferno. Os que suportam
com paciência os sofrimentos desta vida gozam do Paraíso. Quem assim não o faz,
sofre o inferno!
- S. Tereza: quem abraça as
cruzes que Deus lhe manda não as sente.
- S. Francisco de Sales, achando-se
uma vez cercado de sofrimentos disse: “De algum tempo para cá as grandes
tribulações e oposições que sinto me trazem uma paz tão grande e me predizem a união
próxima e estável de minha alma com Deus; sinceramente falando, é a única
ambição e o único desejo de meu coração”. Na verdade, não há paz, para aqueles
que levam uma vida errada, mas só para quem vive unido com Deus e com sua santa
vontade.
- Um missionário religioso,
nas Índias, assistia uma vez a execução de um condenado. Este, antes de morrer,
chamou-o e lhe disse: “Sabe padre, eu fui de sua Congregação Religiosa. Enquanto
observava o regulamento de vida, eu era muito feliz. Mas desde que comecei a
relaxar, achei tudo difícil e passei a me aborrecer com tudo. Abandonei a vida
religiosa para me entregar aos vícios; eles finalmente me trouxeram a este fim
desgraçado que agora o senhor está vendo. Digo-lhe isto para que o meu exemplo
possa servir a outros.”
- Dizia o Pe. Luiz da Ponte: “Considere
como amargas as coisas doces desta vida e como doces as amargas; assim terá
sempre paz”
- Isso é verdade, porque os
prazeres ainda que agradáveis a natureza, deixam sempre o amargor do remorso da
consciência devido ao apego desordenado que, as mais das vezes, colocamos
neles. Mas as amarguras desta vida, aceitas das mãos de Deus com resignação,
tornam-se suaves e queridas as pessoas que amam ao Senhor.
Sofrer amando
9. Persuadamo-nos que neste
vale de lágrimas não pode ter a verdadeira paz interior senão quem recebe e
abraça com amor os sofrimentos, tendo em vista agradar a Deus. Essa é a
condição a que estamos reduzidos em consequência da corrupção do pecado. A situação
dos justos na terra é sofrer amando. A situação
dos santos no céu é de gozar amando.
- O Pe. Paulo Segneri, para
animar a uma de suas penitentes nos sofrimentos, pediu-lhe que escrevesse aos
pés do crucifixo estas palavras: “ É assim que se ama”. O sinal mais certo para
saber se uma pessoa ama a Jesus Cristo é, não tanto sofrer, mas o querer sofrer
por amor d’Ele. Que vantagem maior Dizia S. Tereza, poderá haver para alguém do
que ter um sinal de estar sendo agradável a Deus? Mas a maior parte dos homens
se espanta só com o ouvir falar as palavras cruz, humilhação, sofrimento! Muitas
pessoas, porém, vivem no amor de Deus e encontram nos padecimentos a sua felicidade.
Ficariam desconsoladas se tivessem que viver sem sofrer. “Olhar Jesus
Crucificado torna-me a cruz tão amável que me parece impossível ser feliz sem
sofrer. O amor de Jesus Cristo me basta”
- Nosso Salvador diz a quem o
quer seguir: “Tome a sua cruz e siga-me” mas é preciso toma-la e carrega-la,
não a força e com repugnância, mas com humildade, paciência e amor.
Purificação
11. Uma pessoa que ama a Deus
só tem a intenção de unir-se inteiramente a deus. Dizia S. Catarina de Gênova: “Para
se chegar a união com Deus são necessárias as tribulações; porque o Senhor, por
meio delas, procura destruir em nós as más inclinações interiores e exteriores.
Por isso as injurias, os desprezos, as doenças, o abandono dos parentes e
amigos, as confusões, as tentações e todas as contrariedades nos são
necessárias. Oferecem-nos ocasião de combatermos e vencermos em nós todos os
movimentos desordenados, até que, de vitória em vitória, cheguemos a
extingui-los e a não mais senti-los. Dessa forma, as contrariedades sofridas
por amor a Deus já não nos parecerão desagradáveis, mas suaves. Sem isso, nunca
chegaremos a união com Deus.
12. Portanto, uma pessoa que
deseja ser toda de Deus deve estar resolvida a procurar nesta vida não os
prazeres, mas a acolher com amor os sofrimentos do dia a dia, abraçando logo
todas as mortificações, principalmente quando aparecem contra a nossa vontade. Essas
são as mais agradáveis a Deus.
“Mais vale o homem
paciente do que o corajoso” Pr 16,32
Quem se mortifica com Jejuns, sacrifícios,
penitencias, agrada sem duvida a Deus pela coragem que emprega nestas mortificações;
mais lhe agrada, porém, quem é forte em sofrer com paciência e alegria as
cruzes que Deus lhe manda.
- S. Francisco de Sales dizia:
“As mortificações que nos vem de Deus ou dos homens, por permissão divina, são
sempre mais preciosas do que aquelas que são filhas da nossa vontade. Como regra
geral, o que tem menos de nossa escolha, é o mais agradável a Deus e proveitoso
para a nossa alma”
13. Peçamos ao Senhor que nos
faça dignos de seu santo amor. Se o amamos perfeitamente, todos os bens da
terra parecerão fumaça e lodo; as humilhações e sofrimentos tornar-se-ão
alegrias para nós.
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap V–
Santo Afonso Maria de Ligório
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