Esta Devoção conduz à união com Nosso
Senhor
§152. Quinto motivo. Esta Devoção é um caminho fácil, curto, perfeito
e seguro para chegar à união com
Deus, na qual consiste a perfeição cristã.
Caminho Seguro
§159. Esta Devoção à Santíssima Virgem é um caminho seguro para
ir a Jesus Cristo e alcançar a perfeição, unindo-nos a Ele.
1º. Porque esta
prática de Devoção que ensino não é de modo algum nova. - Como afirma M.
Boudon, falecido há pouco em odor de santidade, numa obra que escreveu sobre esta
Devoção, ela é tão antiga que não se lhe pode marcar com precisão o início. É
certo, no entanto, que há mais de 700 anos se encontram vestígios dela na
Igreja.
- S. Odilão, abade de Cluny,
que viveu cerca do ano de 1040, foi um dos primeiros a praticar publicamente
esta Devoção na França, como se vê na sua vida.
- O Cardeal Pedro Damião
refere que no ano de 1016 o bem-aventurado Marinho, seu irmão, se fez escravo
da Santíssima Virgem, na presença do seu diretor e duma maneira muito
edificante: pôs uma corda ao pescoço, tomou a disciplina, e colocou sobre o
altar uma soma de prata, como sinal da sua dedicação e consagração
à Santíssima Virgem. Manteve-se tão fiel a este ato durante toda a vida que
mereceu, na hora da morte, ser visitado e consolado pela sua amável Soberana, e
receber dos Seus lábios a promessa do paraíso, como recompensa dos seus
serviços.
- Cesário Bolando faz menção
dum ilustre cavaleiro, Valter de Birbak, parente próximo dos duques de Lovaina,
que, por volta de 1300, fez esta consagração de si mesmo à Santíssima Virgem.
- A
mesma Devoção foi praticada por muitos particulares até o século XVII, em que
se tornou pública.
§160. O Padre Simão de Roias, da Ordem da Trindade, também chamada
da Redenção dos Cativos, pregador do rei Filipe III, pôs em voga esta Devoção
em toda a Espanha e na Alemanha. Obteve de Gregório XV, a instâncias de Filipe
III, grandes indulgências para todos aqueles que a praticassem.
- O Padre de Los Rios, da
Ordem de Santo Agostinho, aplicou-se com o Padre de Roias, seu íntimo amigo, a
difundir esta Devoção, por meio de seus escritos e pregações, na Espanha e na
Alemanha. Compôs um grosso volume intitulado “Hierarchia Mariana”, em
que trata, com tanta piedade e erudição, da antiguidade, excelência e solidez
desta Devoção.
§161. No século passado, os Reverendos Padres Teatinos
estabeleceram esta Devoção na Itália, na Sicília e na Sabóia.
- O Padre Estanislau Falácio,
da Companhia de Jesus, promoveu maravilhosamente esta Devoção na Polônia.
- O Padre de Los Rios, no
livro já citado, refere o nome dos príncipes, princesas, duques e cardeais, de
vários reinos, que abraçaram esta Devoção.
- O Padre Cornélio a Lápide,
tão louvável por sua piedade como por sua profunda ciência, foi encarregado,
por diversos bispos e teólogos, de examinar esta Devoção. Depois de maduro
exame teceu-lhe louvores dignos da sua piedade, no que foi seguido por muitas
outras grandes personalidades.
- Os Reverendíssimos Padres
Jesuítas, sempre zelosos no serviço da Santíssima Virgem, apresentaram ao duque
Fernando de Baviera, então Arcebispo de Colônia, em nome dos congregacionistas
da mesma cidade, um pequeno tratado sobre a dita Devoção. Aquele prelado
deu-lhe a sua aprovação e a licença de o imprimir, e exortou todos os párocos e
religiosos da sua diocese a propagar esta sólida Devoção, na medida das suas
forças.
§162. O Cardeal de Bérulle, cuja memória é abençoada em toda a
França, foi um dos mais zelosos em espalhar a mesma Devoção neste país, apesar
de todas as calúnias e perseguições que lhe levantaram os críticos e os
libertinos. Acusaram-no de inovação e de superstição. Escreveram e publicaram contra
ele um folheto difamatório e serviram-se, (ou antes, fê-lo o demônio por
intermédio deles), de mil estratagemas para o impedir de propagar esta Devoção
na França. Mas este grande e santo homem respondeu às calúnias só com a sua paciência,
e às objeções, contidas no referido libelo, com um pequeno escrito em que as
refuta vigorosamente.
- Nesse escrito mostra como esta
Devoção se funda no exemplo de Jesus Cristo, nas nossas obrigações para
com Ele e nas promessas que fizemos no Batismo.
- É particularmente com esta
última razão que fecha a boca aos seus adversários. Faz-lhes ver que esta
consagração à Santíssima Virgem e, por suas mãos, a Jesus Cristo, não é mais
que a perfeita renovação das promessas do Batismo. Diz coisas muito belas sobre
esta prática, como se poderá ver nas suas obras.
§163. O livro de M. Boudon, já citado (§159), refere os nomes dos
diversos Papas que aprovaram esta Devoção, os teólogos que a examinaram, as
perseguições que suportou e venceu, e os milhares de pessoas que a abraçaram,
sem que jamais Papa algum a tenha condenado. Nem seria possível fazê-lo sem
derrubar os próprios fundamentos do Cristianismo.
- Consta, pois, que esta
Devoção não é nova. E se não é muito comum, é por ser preciosa demais para ser
apreciada e praticada por todo o mundo.
§164. 2º. Esta Devoção é um meio seguro para ir a Jesus Cristo, porque
é próprio da Santíssima Virgem conduzir-nos com segurança a Ele, como é próprio
de Jesus conduzir-nos seguramente ao Eterno Pai. E que os espirituais não caiam
no erro de pensar que Maria seja um impedimento para chegar à união divina.
- Seria possível que Aquela
que achou graça diante de Deus, para todos em geral e para cada um em
particular, fosse obstáculo a uma alma para encontrar a grande graça da união com
Deus?
- Seria possível que Maria
pudesse impedir uma alma de se unir perfeitamente a Deus, visto que Ela foi cheia
e superabundou em graças, e que viveu tão unida e transformada em Deus que Ele
teve de se encarnar n'Ela?
- É bem verdade que a visão de
outras criaturas, embora santas, poderia talvez retardar a união divina em
certas circunstâncias, mas jamais Maria, como já disse e não me cansarei de
repetir.
- Uma das razões porque tão
poucas almas atingem a plenitude da idade de Jesus Cristo é que Maria, que é,
hoje como sempre, a Mãe do Filho e a Esposa fecunda do Espírito Santo, não está
suficientemente formada nos corações.
- Quem deseja possuir o fruto
bem maduro e formado deve ter a árvore que o produz. Quem deseja o fruto de
vida, Jesus Cristo, deve ter a árvore de vida, que é Maria.
- Quem quer ter em si
a ação do Espírito Santo, deve ter a sua fiel e indissolúvel Esposa, Maria
Santíssima, que o torna fértil e fecundo, como já dissemos noutro lugar (nn.
20-21).
§165. Estejamos, portanto, certos de que quanto mais presente tivermos
Maria nas nossas orações, contemplações, ações e sofrimentos -se não puder ser
de um modo distinto e perceptível, que seja pelo menos de uma maneira geral e
implícita-, tanto mais perfeitamente encontraremos Jesus Cristo.
- Ele está sempre em Maria,
grande, poderoso, operante e incompreensível, mais que no Céu ou em qualquer
outra criatura do universo. Assim, Maria Santíssima, toda mergulhada em Deus,
está bem longe de se tornar um obstáculo para os perfeitos chegarem à união com
Deus.
- Aliás, é todo o contrário:
- não houve até hoje nem
jamais haverá criatura alguma que nos ajude mais eficazmente nesta grande
obra, seja pelas graças que para este efeito nos comunica - pois como diz
um santo, “ninguém é cheio do pensamento de Deus senão por Ti” -,
seja por garantir-nos contra o espírito maligno em suas ilusões e
trapaças.
§166. Lá onde está Maria, não pode estar o espírito maligno.
- Um dos sinais infalíveis de
que uma alma é conduzida pelo bom espírito é que possua uma grande Devoção a
Maria, e que pense e fale n'Ela.
- É esta a opinião dum santo, que acrescenta
que assim como a respiração é um sinal certo de que o corpo não está morto,
assim o pensamento frequente e a amorosa invocação de Maria é a prova de que a
alma não está morta pelo pecado.
167. Diz a Igreja, e o Espírito Santo que a conduz, que “só
Maria esmagou todas as heresias deste mundo”. Por isso um fiel devoto de
Maria nunca cairá na heresia ou na ilusão, pelo menos formalmente, por mais que
os críticos resmunguem.
- Poderá sim errar materialmente, tomar por verdade uma
mentira e por bom o espírito maligno, ainda que mais dificilmente que qualquer
outra pessoa. Mas, mais cedo ou mais tarde, conhecerá a sua falta e o seu erro
material, e quando o conhecer não se obstinará de forma alguma em crer ou
sustentar o que tinha julgado verdadeiro.
É um caminho traçado por Jesus
§168. Portanto, todo aquele que, sem temor de ilusão, comum às
pessoas de oração, quiser avançar no caminho da perfeição e encontrar com
segurança e perfeitamente Jesus Cristo, abrace de coração dilatado (2 Mac 1, 3)
esta Devoção à Santíssima Virgem, que talvez ainda não conheça.
- Que entre neste
excelente caminho que não conhecia e que lhe indico (1 Cor 12, 31), pois é o
caminho aberto por Jesus Cristo, a Sabedoria Encarnada, nosso único Chefe, e os
membros que o trilharem não podem enganar-se.
- É um caminho fácil, devido à
plenitude de graça e de unção do Espírito Santo que o enche. Quem por ele caminha
não se cansa nem recua.
- É um caminho curto,
que em pouco tempo nos leva a Jesus Cristo.
- É um caminho
perfeito, onde não há lama nem poeira, nem a menor impureza de
pecado.
- É um caminho seguro,
que nos conduz a Jesus Cristo e à Vida Eterna, reta e seguramente, sem
desvios nem para a direita nem para a esquerda.
- Entremos neste caminho, e
avancemos por ele, noite e dia, até a plenitude da idade de Jesus Cristo.
Tratado da Verdadeira Devoção a
Santíssima Virgem Maria
São Luis Maria Grignion de
Monfort
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