2. Se nós temos motivos de
temer a morte eterna por causa das ofensas feitas a Deus, temos também, em
compensação, motivos muito mais fortes de esperar a vida eterna pelos
merecimentos de Jesus Cristo! Seus méritos são de um valor infinitamente maior
para nos salvar do que os nossos pecados para nos perder. Pecamos e merecemos o
inferno. Mas veio o redentor, tomou sobre si todas as nossas culpas para
paga-las com seus sofrimentos: “Em verdade, ele tomou sobre si nossas doenças e
encarregou-se de nossos sofrimentos”(Is 53,4)
3. No mesmo instante em que
pecamos, a sentença de condenação a morte eterna foi logo escrita por Deus
contra nós. Mas o que fez nosso Redentor? “Apagou o documento escrito contra
nós e o suprimiu definitivamente, pregando-o na cruz” (Cl 2,14). Cancelou com
seu sangue o decreto de nossa condenação. Pregou-o na cruz para que nós,
olhando a sentença de nossa condenação pelos pecados cometidos, olhássemos ao
mesmo tempo para a cruz. Jesus Cristo, morrendo, apagou nossa condenação com
seu sangue para que assim recuperássemos a esperança do perdão e da salvação
eterna.
Fala por nós...
4. O sangue de Jesus fala por
nós e nos obtém a divina misericórdia, mais do que o sangue de Abel falava
contra Caim. “Vós vos aproximastes de jesus, o mediador da nova aliança e do
sangue da aspersão, que fala com mais eloquência que o sangue de Abel” Hb 12,4
- É como se o apóstolo Paulo
dissesse: Pecadores, felizes de vós que, depois do pecado, recorrestes a Jesus
Crucificado. Ele derramou todo o sangue para se tornar assim o mediador da paz
entre os pecadores e Deus, e obter para eles o perdão. As vossas iniquidades
clamam contra vós, mas o sangue do Redentor está a vosso favor. A Justiça
divina não pode deixar de ser aplacada com a voz deste sangue.
5. É verdade que prestaremos
contas rigorosas ao Juiz Eterno de todos os nossos pecados. Mas quem será nosso
Juiz? “O Pai a ninguém julga, mas
confiou ao Filho todo julgamento (Jo 5,22). Consolemo-nos, o Pai eterno
constituiu como nosso Juiz o nosso redentor.
- Por isso S. Paulo nos
encoraja: “Quem nos condenará? Cristo Jesus, aquele que morreu.... é que
intercede por nós” (Rm 8,34). Quem é o Juiz que vai nos condenar? É aquele
mesmo Salvador que, para não nos condenar a morte eterna, quis condenar-se a si
mesmo e morreu. Continua ainda no céu, junto do Pai, a procurar nossa salvação.
- Por isso escreve S. Tomás
Vilanova: “Que você teme, pecador, se já detestou os seus pecados? Como é possível
condena-lo aquele que morreu para o salvar? Se você volta a seus pés, como o
rejeitará aquele que veio do céu para procura-lo quando você fugia dele?
6. Se por causa de nossa
fraqueza, temos medo de cair sob os ataques de nossos inimigos, contra os quais
devemos combater, eis o que devemos fazer: “Corramos com perseverança para o
combate que nos é proposto, com os olhos fixos naquele que é o autor e
realizador da fé, Jesus, que em vez da alegria que lhe foi proposta, abraçou a
cruz desprezando a vergonha” (Hb 12, 1-2) Combatamos com coragem, contemplando
Jesus Crucificado que da sua cruz nos oferece sua ajuda, a vitória, a coroa.
Caímos no passado porque deixamos de olhar para as chagas e as ignominias
sofridas pelo nosso Redentor e, assim, não recorremos a ele pedindo ajuda. Mas se
para o futuro pusermos diante dos olhos o quanto sofreu por nosso amor e como
está pronto a nos ajudar se a ele recorrermos, não seremos certamente vencidos
pelos nossos inimigos.
- Dizia S. Tereza: “Não
entendo aqueles que falam com medo do demônio, quando podiam dizer ‘Deus, oh
Deus’ e fazê-lo tremer” E continua a mesma santa: “Se nós não colocamos toda
nossa confiança em Deus, pouco ou nada nos servirão nossos esforços. Todos os
esforços pouco valem, se não deixarmos de confiar em nós para confiar somente
em Deus”
Mistérios de Esperança
7. Que mistérios de esperança
e de amor são para nós a Paixão de Jesus Cristo e o Sacramento da Eucaristia!
Mistérios que, se a fé não nos garantisse, quem poderia acreditar? Um Deus
Onipotente fazer-se homem, derramar todo seu sangue e morrer de dor numa cruz!
Para que?
- Para pagar a divida dos
nossos pecados e salvar-nos, a nós, miseráveis rebeldes. E depois, para se unir
mais estreitamente a nós, ele quis dar-nos em alimento o seu próprio corpo, um
dia sacrificado por nós na cruz. Como estes dois mistérios deveriam incendiar
de amor todos os corações dos homens! Que pecador, por pior que seja,
arrependido do mal que fez, poderá desesperar do perdão, vendo um Deus assim
apaixonado pelos homens e inclinado a misericórdia?
- Por isso dizia S.
Boaventura: “Agirei com confiança esperando com firmeza, pois nada do
necessário para a salvação me será negado por aquele que tanto fez e sofreu
para me salvar”
8. S. Paulo exorta: “Aproximemo-nos
com confiança do trono da graça a fim de conseguir misericórdia e alcançar a
graça de uma ajuda oportuna” (Hb 4, 16).
O trono da graça é a cruz onde Jesus se assenta para distribuir graças e
misericórdia a quem recorre a ele. Mas é preciso recorrer logo, para
encontrarmos o auxilio oportuno para a nossa salvação. Virá depois talvez o
tempo em que não poderemos mais encontra-lo! Abracemos, pois , logo a cruz de
Cristo, com grande confiança! Não nos desanimem nossas misérias: em Jesus
Cristo Crucificado encontraremos para nós toda a riqueza da graça. “Nele
recebestes todos os dons... nenhum dom vos falta”(ICor 1,5-7)
- Os merecimentos de Cristo
nos tornaram ricos de todos os tesouros divinos e fizeram-nos capazes de toda a
graça que DESEJAMOS.
É Preciso pedir
9. S. Paulo diz que “Todas as
coisas” (Rm 8, 32) Deus nos concederá, portanto nenhuma graça é excluída: nem o
perdão, nem a perseverança, nem o santo amor, nem a perfeição, nem o paraiso.
Tudo, tudo nos deu. Mas é preciso pedir-lhe. Deus é todo liberal com quem lhe
pede: “É rico para todos que o invocam” (Rom 10,12)
11. S. João Ávila Diz: Não vos esqueçais que entre o Pai Eterno e
nós, Jesus Cristo é o mediador e por ele somos amados e ligados com laços de
amor tão fortes que nada os pode desatar, se o homem não os cortar com algum
pecado mortal. O sangue de Cristo clama pedindo misericórdia por nós, clama de
tal modo que não se ouve o rumor de nossos pecados. A morte de Cristo fez
morrer nossas culpas: “Ó morte, eu serei a tua morte” Os 13,14. Aqueles que se
perdem, não se perdem por falta de salvação, mas por não quererem aproveitar da
salvação dada por Jesus Cristo por meio dos Sacramentos.
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap III–
Santo Afonso Maria de Ligório
Nenhum comentário:
Postar um comentário