- Mas vós, Jesus, partindo
deste mundo, o que nos deixastes em memória de vosso amor?
Não uma veste, um anel, mas o
vosso corpo, o vosso sangue, a vossa alma, a vossa divindade, vós mesmo, todo,
sem reservas. “Deu-se todo não reservando nada para si” diz S. João Crisóstomo.
2. Neste dom da Eucaristia –Diz
o Concilio de Trento- Cristo quis derramar todas as riquezas do amor que
reservava para os homens. Ele quis fazer esse presente aos homens precisamente
na noite em que os homens lhe preparavam a morte. Como diz S. Paulo: “Na noite
em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e depois de dar graças,
partiu-o e disse: isto É o meu corpo que é entregue por vós” (ICor 11, 23-24).
- Diz S. Bernardino de Sena
que Jesus Cristo, abrasado de amor por nós e não satisfeito de preparar-se para
dar sua vida pela nossa salvação, foi constrangido pelo excesso de seu amor a
fazer uma obra maior: dar-nos, como alimento o seu próprio corpo.
3. S. Tomás chama este
sacramento “Sacramento de amor, prova de amor”.
- Sacramento de amor, porque
só o amor o levou a dar-se todo nele.
- Prova de amor para que nós,
se alguma vez duvidarmos de seu amor, tenhamos neste sacramento uma prova.
- É como se nos dissesse o
Redentor quando nos deixava este dom:
Homens, se algum dia duvidarem de meu amor, eis que eu
lhes deixo a mim mesmo neste sacramento. Com tal garantia na mão, não podem ter
dúvidas de que eu os amo e os amo muito!
- S. Bernardo chama este
sacramento: “Amor dos amores”. É que este dom compreende todos os outros que o
Senhor nos fez: a criação, a redenção, o destino ao céu.
- A Eucaristia não é só
garantia do amor de Jesus Cristo, mas é também garantia do paraíso que ele nos
quer dar... no qual, nos é dada a garantia da glória futura, diz a Igreja.
- Por isso S. Felipe Neri não
sabia chamar a Jesus Cristo na Eucaristia senão com o nome de “amor”. Quando lhe
foi levado o viático, ouviram-no exclamar: “Eis o meu amor, dai-me o meu amor”.
Invenções de Deus
4. O Profeta Isaias queria que
se manifestassem a todos s invenções encontradas por Deus para fazer-se amar
pelos homens (12,4). E quem teria imaginado se ele mesmo não o tivesse feito,
que o Verbo Encarnado se esconderia sob as espécies do pão para se fazer nosso
alimento? Não parece uma loucura, diz S. Agostinho, dizer: comei minha carne,
bebei o meu sangue?
- Quando Jesus Cristo revelou
a seus discípulos esse sacramento, que nos queria deixar, eles não puderam
acreditar. Retiraram-se dizendo: “Como pode ele nos dar a comer sua carne? Esta
palavra é dura; quem pode escuta-la? (Jo 6, 53.61)
- Mas o que os homens não
podiam pensar nem acreditar, pensou-o e o fez o grande amor de Jesus Cristo. “Tomai
e comei” –disse aos discípulos e por eles a todos nós, antes de morrer!
- “Tomai e comei!” Mas que
alimento será esse, ó Salvador do mundo, que, antes de morrer nos quereis dar?
- “Depois de dar graças,
partiu-o e disse: isto É o meu corpo, que é entregue por vós”. Este alimento
não é terreno, sou eu mesmo que me dou todo a vós!
Disposições e Efeitos
12. O Concilio de Trento nos
ensina que a comunhão é o remédio que nos livra dos pecados veniais e nos preserva
dos mortais: “Remédio pelo qual somos livres das falhas cotidianas e
preservados dos pecados mortais”
- Diz-se que somos livres das
falhas cotidianas porque, segundo S. Tomás, por meio deste sacramento, o homem
é estimulado a fazer atos de amor e por eles se apagam os pecados veniais. Somos
preservados dos pecados mortais, porque a comunhão confere o aumento da graça
que nos preserva das culpas graves. Por isso escreveu Inocêncio III:
“Jesus Cristo com sua
Paixão nos livrou do poder do pecado,
mas com a Eucaristia
nos livra do poder de pecar”.
13. Além disso, este sacramento
inflama de modo especial as pessoas no amor de Deus: “Deus é amor”.
- É fogo que
consome todos os afetos terrenos em nossos corações: “É fogo devorador”.
- O Filho do Homem veio
precisamente acender este fogo de amor em cada um de nós. “Vim trazer fogo a
terra, e que DESEJO, senão que ele se acenda?” (João 4,8). Que chamas de amor
acende Jesus Cristo em todo aquele que devotamente o recebe neste sacramento!
- S. Catarina de Sena imaginava
Jesus Sacramentado nas mãos do sacerdote como se fosse um globo de fogo e a
santa admirava-se de não ficarem abrasados e consumidos todos os corações dos
homens.
- S. Rosa de Lima, depois da
comunhão impressionava a todos que dela se aproximavam por sua grande piedade e
recolhimento.
- Conta-se também que S.
Venceslau ao visitar as Igrejas, onde estava o Santíssimo Sacramento,
transformava-se exteriormente a ponto de chamar atenção de quem o seguia. Por
isso diz S. João Crisóstomo: “O Santíssimo Sacramento é o fogo que nos
inflama de modo que, retirando-nos do
altar, espargimos tais chamas de amor que nos tornam terríveis ao inferno.”
14. Dizia a esposa em Cânticos: “Ele
me introduziu numa adega”. Escreveu S. Gregório de Nissa que a comunhão é
exatamente essa adega de vinho em que a pessoa fica inebriada do amor de Deus,
de tal modo que esquece e perde de vista todas as coisas criadas. É aquele
morrer de amor mencionado em Cânticos: Estou enferma de amor” (2, 4.5)
- Não comungo com frequência,
dirá alguém, porque me vejo frio no amor de Deus. Responde Gerson: Porque você se
sente frio, tanto mais você deve se achegar a este sacramento, se é que tem
verdadeiro DESEJO de amar a jesus Cristo!
- S.Boaventura escreve: Ainda que
friamente, aproxime-se confiando na misericórdia de Deus. Tanto mais uma pessoa
precisa do médico, quanto mais se sente doente. Também dizia São Francisco de
Sales: “Duas espécies de pessoas devem comungar com frequência: os perfeitos,
para se conservarem na perfeição, e os imperfeitos para chegarem a perfeição.
- Mas, para comungar frequentemente
é preciso, ao menos ter um grande DESEJO de fazer-se santo e crescer no amor a
Jesus Cristo. “Quando você for comungar, DESEJE todo aquele amor que jamais um
coração teve para comigo, e eu receberei este seu amor como você gostaria que
fosse; é o que nos diz o Senhor (S. Matilde).
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap II–
Santo Afonso Maria de Ligório
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