14. “Vós Redentor, amastes o
homem de tal modo que, quem considerar este amor, não pode deixar de vos amar. Vosso
amor faz violência aos corações, como diz S. Paulo: “O amor de Cristo nos constrange” IICor 5,14 A origem do amor de Jesus
Cristo para com os homens é sua caridade para com Deus. Ele mesmo o disse aos
seus discípulos na quinta-feira santa: “Para que o mundo saiba que amo o Pai:
Levantai-vos e vamos”.
Mas para onde?
Morrer pelos homens, na cruz!
15. Inteligência alguma
compreenderá o quanto arde este fogo no Coração de Jesus Cristo. Assim como lhe
foi mandado sofrer uma morte, do mesmo modo, se lhe tivesse sido ordenado que
sofresse mil mortes, ele teria amor bastante para sofrê-las todas. Foi-lhe
imposto sofrer por todos os homens; mas se lhe fosse pedido fazê-lo pela
salvação de um só, tê-lo-ia feito do mesmo modo que o fez por todos. Assim como
esteve três horas na cruz, se fosse necessário estar nela até o dia do juízo,
ele teria amor para o fazer.
Jesus Cristo amou
muito mais do que sofreu.
- O amor divino, fostes maior
do que exteriormente vos mostrastes. Mostrastes-vos grande exteriormente,
porque tantas chagas e feridas nos falam de um grande amor. Mas não dizem toda
sua grandeza. Interiormente fostes maior do que exteriormente vos
manifestastes: vossas dores físicas foram, apenas, uma faísca que saiu daquela
grande fornalha de imenso amor.
- O maior sinal de amor é dar
a vida pelos amigos. Contudo, não foi um sinal que bastasse a Jesus Cristo para
exprimir seu amor por nós.
16. Esse amor, quando se dá a
conhecer, faz as pessoas boas saírem de si e ficarem estarrecidas. Por isso as
pessoas sentem afervorar-se o coração, DESEJAM o martírio, alegram-se no
sofrimento, têm alivio nos grandes sofrimentos. Passeiam nas brasas como se
fossem rosas, DESEJAM os tormentos, regozijam-se com o que o mundo teme,
abraçam o que o mundo detesta. Para a pessoa unida a Cristo na cruz –diz S. Ambrósio-
nenhuma coisa é mais consoladora e gloriosa do que trazer consigo os sinais de
jesus Crucificado.
Frutos da Caridade
III,8. Eis o que S. João
Crisóstomo diz dos frutos gerados em uma pessoa que possui o amor de Deus: “Quando
o Amor de Deus se apodera de uma pessoa, produz nela um insaciável DESEJO de
trabalhar pela pessoa amada; tanto que, por muitas e grandes que sejam as obras
que faça, e por mais longo que seja o tempo dedicado a seu serviço, tudo parece
nada.
- Sempre se aflige por fazer
pouco para Deus, e se lhe fosse lícito morrer e consumir-se inteiramente por
ele, de bom grado o faria. Por isso, por mais que faça sempre se considera inútil.
O amor ensina a pessoa o que Deus merece, e na caridade desta luz divina vê
todos s defeitos de suas ações, de tudo tira confusão e sofrimento,
reconhecendo que todos os seus trabalhos são bem pouca coisa para um Senhor tão
grande.
9. Diz S. Francisco de Sales:
Como se engana a pessoa que faz consistir a santidade em outras coisas e não em
amar a Deus! Uns põem na austeridade ou em dar esmolas, outros na oração ou
frequência dos sacramentos. Para mim, não conheço outra santidade senão a de
amar a Deus de todo o coração; todas as outras virtudes sem este amor não
passam de um montão de pedras. E se não possuímos esse amor, a culpa é nossa,
pois não nos decidimos a nos dar inteiramente a Deus.
10. S. Tereza sentiu em sua
alma, certa vez, como se Jesus lhe dissesse: “Tudo o que não me agrada, é
vaidade”. Como seria bom que todos entendessem esta verdade: “Uma só coisa é
necessária”. Não é necessário ser rico neste mundo, ganhar a estima dos outros,
levar vida cômoda, ter dignidades, passar por sábio.
A única coisa
necessária é amar a Deus e fazer sua vontade.
- Só para este fim ele nos
criou e nos conserva a vida; somente assim podemos ser admitidos no céu. A toda
a alma que DESEJA ser sua esposa, o Senhor diz: “Coloca-me como um selo sobre
teu coração, como um selo sobre teus braços” Ct8, 6 para que:
·
dirijas a mim todos os teus DESEJOS e ações;
sobre teu coração a fim de que não entre em ti outro amor senão o meu, sobre
teu braço para que não tenhas em vista senão a mim em tudo que fazes.
- Como corre rapidamente na
perfeição quem só olha Jesus Crucificado em todas suas ações e só a ele procura
agradar!
11. O fim de todos nossos
esforços deve ser, portanto, adquirir um verdadeiro amor a Jesus Cristo. Os mestres
da vida espiritual descrevem os sinais do verdadeiro amor:
·
É TEMEROSO, e o seu medo é dar desgosto a Deus.
·
É GENEROSO, cheio de confiança em Deus, tudo faz
para a sua glória.
·
É FORTE, pois resiste a todas as más inclinações
mesmo nas mais violentas tentações, e nos mais profundos sofrimentos.
·
É OBEDIENTE, porque procura seguir imediatamente
a voz de Deus.
·
É PURO, amando somente a Deus e só porque Deus
merece ser amado.
·
É ARDENTE, porque desejaria inflamar todos os
corações, vendo-os consumidos pelo amor de Deus.
·
É ARREBATADOR, pois arrasta a alma e a faz viver
como que fora de si mesma, como se não visse, não ouvisse e não tivesse mais os
sentidos para as coisas da terra. Atenta em só amar a Deus.
·
É UNITIVO, unindo estreitamente à vontade da
criatura a vontade de seu Criador.
·
É DESEJOSO, porque enche a alma do DESEJO de
deixar a terra para unir-se perfeitamente a Deus no Paraiso, a fim de amá-lo
com todas suas forças.
12. Mas ninguém ensina melhor
as características e a prática da caridade do que o grande pregador desta
rainha das virtudes, São Paulo. Ele diz primeiramente que sem a caridade o
homem é nada, e de nada se aproveita: “Ainda que eu tivesse toda a fé a ponto
de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que eu distribuísse
todos meus bens em sustento dos pobres, ainda que entregasse meu corpo para ser
queimado, se não tiver caridade, de nada valeria”. ICor 13, 1-7
- S. Paulo nos indica os
sinais da verdadeira caridade, e ao mesmo tempo nos ensina a prática das
virtudes que são filhas da caridade:
“A caridade é paciente, é
bondosa. A caridade não tem inveja, não se ostenta, não se enche de orgulho,
não é ambiciosa e não busca os seus próprios interesses. Não se irrita, não
guarda rancor, nem se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo
desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” ICor 13, 1-7
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap I, II
e III– Santo Afonso Maria de Ligório
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