O pecado e a morte
- Naquele momento extremo, o
homem pecador será acusado pelo demônio,
pelo mundo e pela carne.
- Não mais lhe farão propostas
atraentes; não lhe apresentarão o amargo como doce o imperfeito como perfeito,
como acontecia durante a vida.
- A Verdade virá patenteada como é.
- O remorso, antes tão enfraquecido, ladrará velozmente, quase
levando o pecador ao desespero.
- Não obstante os próprios
pecados; é preciso conservar a esperança
no Sangue de Cristo. Meu perdão é dado por meio Dele e Minha Misericórdia é
infinitamente maior do que todos os males do mundo.
- Não se demore, porém. É
terrível achar-se desarmado num campo de batalha entre numerosos inimigos!
A morte do bom
- Sabes que o sofrimento existe por causa da vontade: ninguém padeceria, se a vontade de todos fosse reta e estivesse
em conformidade com a minha vontade.
Com isto não quero dizer que iriam desaparecer as dificuldades.
- É o sofrimento que não existiria, pois as contrariedades seriam
voluntariamente aceitas por meu amor. As pessoas aceitariam-nas, por saber que
são queridas por mim.
- O homem conformado a minha vontade é:
* desapegado de si mesmo,
* vence o mundo,
* o demônio e
* a carne;
ao chegar o momento da
morte, seu falecimento acontece na paz.
- Como seus inimigos foram
vencidos durante a vida:
* o mundo não o perturba, pois conhece as suas ilusões e já renunciou
a seus prazeres;
* a carne enfraquecida não se ergue para o acusar, uma vez que foi
dominada pela mortificação, vigílias, oração humilde e continua.
- Graças a renuncia ao pecado
e apego a virtude, não sente mais tendências para o que é sensível e amor pelo corpo; atitudes
essas que tornam a morte indesejável.
- Por um sentimento natural, o homem teme a morte; o justo supera esse sentimento, vence o medo natural mediante o desejo de alcançar a meta. Desaparece,
pois, todo sofrimento que vem do
apego natural ao corpo.
- A consciência do homem justo que agoniza está tranquila; durante a
vida ela montou boa guarda, dera o alarme quando os inimigos da alma queriam
assaltar a cidade interior.
- Como o cachorro late a chegada
dos inimigos (sentidos)
e acorda os guardas (potências), assim ela sempre advertira a razão. Esta última, em ação conjugada
com o Livre arbítrio, distinguia
quem era amigo, quem não:
* Diante dos amigos –virtudes e santos desejos do coração-
acolhia-os com atenções;
* Diante dos inimigos –vícios e maus pensamentos- eram
afastados com a espada do ódio e do amor.
- Dessa forma a consciência não atormenta.
- O interior da pessoa constitui
uma família feliz, tudo está em paz.
- É verdade que o homem humilde,
que conhece o valor do tempo e das virtudes, acusa-se na hora da morte por não
ter aproveitado melhor a própria vida. Mas tal atitude não causa aflição; é
mesmo meritória. Leva a pessoa a concentrar-se e a considerar o Sangue do
Cordeiro Imaculado e humilde.
- Naquele instante a alma não
fica a pensar nas virtudes praticadas; sabe que não pode confiar nelas, mas
unicamente no Sangue de Cristo, onde achou o perdão.
- Mas como a lembrança do Sangue
sempre a acompanhara, também naquele último instante nele se inebria e afoga.
- Quanto aos demônios, não tendo em que acusar o justo, aproxima-se
a procura de qualquer coisa. São feios e crêem atemorizar o justo por suas
figuras. Como no justo não há pecado, a visão dos demônios não atemoriza. E
eles, ao notar a alma mergulhada no Sangue de Cristo, afastam-se atacam de
longe, sem perturbar o homem.
- De fato, este justo, já começou
a gozar da vida eterna:
* Pela fé, já contempla o bem infinito e eterno, que Sou Eu;
* Pela esperança, não por méritos pessoais mas por dom gratuito, está
seguro de atingir-me na virtude do Sangue de Cristo;
* Pela caridade, estende seus braços e abraça-me.
- Antes de chegar a Mim a alma já
Me possui.
- Bondosamente os coloco em seus
respectivos lugares, conforme o grau de amor com que até mim chegaram.
A morte do mau
- Se grande é a dignidade do bom
sacerdote, enorme é a baixeza do mau sacerdote. No momento de falecer, os
demônios o acusam tremendamente e mostram-lhe sua figura que é horrível.
O homem deveria
tolerar qualquer sofrimento nesta
vida para não o ver jamais!
- O remorso corrói o mau sacerdote moribundo com mais violência; a sensualidade até então considerada
como senhora –e também os prazeres desordenados, acusam-no. Ao tomar
consciência de coisas que desconhecia, o mau se perturba grandemente, pois
vivera como um infiel.
- O egoísmo apagara-lhe a iluminação
da fé. Agora o demônio aponta a maldade, provocando-lhe o desespero.
- Muito difícil esta batalha para
o mau sacerdote moribundo, desarmado, sem o escudo da caridade.
- Qual amigo do diabo, de tudo se
vê despojado: não possui a Iluminação
sobrenatural da fé, nem a Ciência Sagrada.
- Nada compreendera desta ultima, porque a soberba não lhe permitira penetrar em sua natureza intima. Na
grande luta final, nem sabe o que fazer. Não se alimenta de esperança; jamais confiara no Sangue de
Cristo, do qual fora distribuidor. Sua confiança
repousava em si mesmo, nos cargos importantes, nos prazeres mundanos.
(O Diálogo-Santa Catarina de Sena, pg
282; 284; 288)
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