Vontade de Deus
- Todos os que nascem e vivem
neste mundo passam por fadigas corporais e espirituais. Sim, também os meus
servidores padecem nos seus corpos; mas em seus espíritos não, porque suas
vontades estão identificadas com a minha.
- O que faz o homem sofrer é a
vontade.
- Sabe qual é a grande felicidade
dos santos? É possuir a vontade satisfeita em todas as suas aspirações:
Ao desejar-me, possuem-me, tendo
deixado o peso do corpo que produzia a lei que luta contra o espírito.
- Na vida terrena, o corpo
impedia o perfeito conhecimento da Verdade e minha visão face a face.
Separando-se do corpo, a vontade dos bem-aventurados realiza-se: ao desejo de
ver-me corresponde a visão, e com ela, a beatitude:
Vendo, conhecem-me;
conhecendo, amam-me; amando, saboreiam-me; saboreando, realizam-se quanto ao
desejo de me ver e conhecer.
Desejando,
possuem; possuindo, desejam.
- O sofrimento está distante do
desejo e o fastio da saciedade. Como vês, meus servidores são felizes, especialmente
na visão celeste. Ela satisfaz seus desejos, sacia suas vontades. Neste sentido
afirmei que a vida eterna consiste na posse das coisas que a vontade deseja,
isto é, conhecer-me, ver-me.
- Já a partir desta vida meus
servidores gozam da eternidade, ao saborearem a causa de sua felicidade.
- E qual é tal causa? Respondo: é
a certeza da minha presença em suas vidas, é o conhecimento da minha Verdade. Tal conhecimento se realiza na
inteligência, que é o olho da alma;
pupila de tal olho é a fé.
- Pela iluminação da fé, eles
distinguem, conhecem e seguem a estrada mensagem do Verbo encarnado. Sem a fé,
ninguém reconhece tal estrada, à semelhança daquele que possuísse o olho, mas
coberto por um pano. Sim a pupila deste olhar é a fé; nada verá quem cobrir sua
inteligência com o pano da
infelicidade, por causa do egoísmo. Tal pessoa terá a inteligência, mas não a luz para conhecer.
- Portanto, tais pessoas vendo,
conhecem; conhecendo, amam; amando, afogam e destroem a vontade própria;
tendo-a destruído, revestem-se da minha vontade, a qual deseja unicamente a
vossa santificação.
- Neste sentido meus servidores
não padecem no espírito, mas somente no corpo.
O querer sensível já
morreu, ele que é a fonte de sofrimento e dor para o homem.
- Destruída essa ‘vontade’
sensível, o sofrimento desaparece e meus servidores tudo passam a tolerar com
respeito. Consideram como graça as dificuldades que permito, só desejam o que
eu desejo. Quando deixo que os demônios os atormentem com tentações para provar
suas virtudes eles as superam com a intervenção da vontade, por mim fortalecida. Humilham-se, consideram-se indignos
de sossego e merecedores de castigo. Vivem, pois, na alegria, sem sofrer.
- Nas perseguições e adversidades
provenientes dos homens, na pobreza ou rebaixamento de posição social, na morte
de filhos e pessoas amadas –espinhos produzidos pela terra depois do pecado de
Adão- meus servidores tudo suportam com discernimento e fé. Confiam em mim,
Bondade Suprema, certos de que somente quero o bem e para o seu bem tudo
permito com amor.
O Diálogo-Santa Catarina de Sena , pg105
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