Virtudes x Tentações
- Aos homens que caminham pela
estrada da mentira resta apenas, qual fruto, a ‘água morta’ para onde o demônio
os convida. Tendo perdido a iluminação da fé, quais cegos e loucos sem
entendimento seguiram-no, como se ele dissesse: ‘quem tem sede de água morta,
venha a mim, que eu lhe darei’.
- Sirvo-me do demônio qual
instrumento de minha justiça para atormentar os que me ofendem. Nesta vida o
coloquei qual tentador, molestando os homens. Não para que sejam vencidos, mas
para que conquistem a vitória e o prêmio pela comprovação das virtudes.
- Ninguém deve temer as possíveis
lutas e tentações do demônio. Fortaleci os homens, dei-lhes energia para a vontade no Sangue de Cristo.
Demônio e criatura
alguma conseguem dobrar a vontade.
Ela vos pertence, é
livre.
Vós, pelo Livre Arbítrio, é que escolheis o
querer ou não querer alguma coisa.
- A vontade, todavia, pode ser entregue como arma nas mãos do diabo,
que pode usa-la para vos ferir e matar. Se a pessoa não lhe dá essa arma, se não
consente ante as tentações e lisonjas do maligno, jamais pecará por
tentação. Sairá dela até fortalecido e compreenderá que permito as tentações
unicamente para vos conduzir ao bem e comprovar vossa virtude.
A caminhada para o bem passa pelo conhecimento de si e de Deus.
- Este duplo conhecimento aumenta
no tempo da tentação, no sentido de que o homem toma consciência da própria
nulidade, percebe que não consegue evitar as dificuldades indesejáveis,
reconhece minha presença a fortalecer sua vontade para não consentir nos
maus pensamentos, entende que a tentação é permitida por mim, vê que o demônio
é fraco e nada pode além daquilo que lhe permito. Aliás, é por amor, não por
maldade, que permito as tentações; desejo a vossa vitória, não a derrota. Quero
que me conheçais e vos conheçais, atingindo uma virtude provada, pois o bem é comprovado em seu contrário.
O Inferno
- Como vês, os demônios são
encarregados por mim de atormentar os condenados ao inferno e de provar a
virtude dos que se acham nesta existência. Tal não é a intenção dos demônios,
pois nada fazem por amor. Desejariam privar-vos da virtude, mas não conseguem.
A menos que queirais.
- Vê como é grande a tolice
humana, cedendo justamente onde tornei o homem mais forte e consignando-se nas
mãos do diabo.
Esforça-te por
entender: é voluntariamente que os condenados se entregam ao demônio na hora da
morte.
Disse
‘voluntariamente’, já que ninguém os pode obrigar a isso.
- Sem aguardar qualquer
julgamento, logo depois do ultimo suspiro, os pecadores julgam-se a si mesmos
pela própria consciência e se põem sob o perverso domínio do maligno. Desse
modo, desesperados, condenam-se. No instante supremo, com muito ódio,
encaminham-se para o abismo; e antes mesmo de chegar a ele, voluntariamente
o escolhem como paga, junto aos demônios, seus senhores.
O Céu
- Aqueles que morrem na caridade
perfeita, quando atingem o derradeiro instante, após ter vivido na perfeita
iluminação da fé, na fé e na esperança do Sangue do Cordeiro, contemplam o
prêmio que lhes preparei; com amor, o acolhem; apertam-me com os laços da
afeição, qual Bem sumo e terno. Antes de deixar o corpo, antes de morrer, já
gozam da vida eterna.
O Purgatório
- Outros, que haviam passado a
vida na ‘caridade comum’ e atingem o ultimo momento sem essa perfeição, também
acolhem o prêmio eterno com a nossa fé e esperança, mas de modo imperfeito.
Sentem-se culpados, mas reconhecem que minha misericórdia é maior que seus
pecados.
Os pecadores não agem assim. Ao
divisar o lugar que lhes toca, recebem-no com ódio. Uns e outros, nem esperam o
julgamento. Logo que deixam esta vida, cada um vai para o seu lugar,
pressentido e aprendido antes mesmo de deixar o corpo na morte:
- Os condenados, para o inferno, com ódio e
desespero;
- Os perfeitos, com amor , fé e esperança;
- Os imperfeitos, com fé no perdão, vão para o
purgatório.
O Diálogo-Santa Catarina de Sena , pg100
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