Função das Faculdades da Alma na Vida
Espiritual
- Todos os males procedem do
egoísmo;
é ele que obscurece a razão, na qual se encontra a iluminação da fé.
- Quem perde uma dessas duas luzes, perde ambas.
- Ao criar o homem à minha imagem
e semelhança, dei-lhe a memória, a
inteligência e a vontade.
- Entre elas, a mais nobre é a inteligência.
- Embora seja movida pela vontade, é a inteligência que alimenta a vontade.
- Por sua vez, a vontade fornece a memória a recordação de mim e dos meus
favores.
- Essa recordação dará à pessoa solicitude e gratidão.
- Como vês, uma faculdade
reabastece a outra, nutrindo o homem na vida da graça.
- Não vive o homem sem amor;
ele
sempre procura algo para amar.
Criei por amor,
criei-o no amor.
- Assim, a vontade move a inteligência,
quase dizendo-lhe:
“Quero amar;
o amor é
meu sustento”.
- Desperta-se então a inteligência e responde:
“Se queres amar,
vou
dar-te o bem para que o ames”!
- Reflete ela sobre a dignidade
humana e sobre a indignidade proveniente do pecado:
- na
dignidade enxerga a bondade e o amor com que criei o homem;
- na indignidade percebe a misericórdia,
graças à qual dou-lhe o tempo (de
arrepender-se) e o liberto do mal.
- Diante dessas realidades, a vontade se alimenta de amor:
sente o
desejo santo, despreza a sensualidade, torna-se humilde e paciente, concebe
interiormente as virtudes, pratica-as mais ou menos perfeitamente no próximo,
de acordo com a perfeição atingida.
- Em sentido inverso, se o
apetite sensível procura os bens materiais, a eles orienta-se a inteligência;
e quando a mesma toma
como objeto os bens passageiros, surgem o egoísmo, o desprezo pelas virtudes, o
apego ao vicio e, como consequência, o orgulho e a impaciência.
- Por sua vez, a memória encher-se-á com tais elementos,
fornecidos pelo afeto sensual, obscurecendo-se a inteligência, que não mais vê senão aparências de bem.
- Tais aparências ficam sendo,
então, a única claridade mediante a qual a inteligência
olha e a vontade ama todo objeto de
prazer.
- Sem estas aparências, o homem
não pecaria, pois, como tendência inata, ele só pode desejar o bem.
- Peca, porque o mal toma colorações de bem.
- A inteligência não mais discerne ou reconhece a Verdade;
por
cegueira, engana-se e procura o bem e a satisfação onde eles não estão.
- Os prazeres mundanos são
espinhos venenosos;
engana-se a inteligência
ao considerá-los;
a vontade ao
amá-los;
a memória ao retê-los.
- Comporta-se a inteligência como uma ladra,
apoderando-se do alheio;
igualmente a memória,
conservando a contínua lembrança de realidades distantes de mim.
- Com tudo isso,
a alma se priva da minha graça.
- É muito estreita a união destas
três faculdades.
- Quando uma delas me ofende, as outras também o fazem;
uma
apresenta a outra o bem ou o mal, conforme agrada ao livre arbítrio.
- Este se acha na vontade e a move como quer, em conformidade ou não com a razão.
- Possuís a razão
–sempre unida a mim, a menos que o livre arbítrio a afaste mediante um amor desordenado-
e tendes em
vós uma lei perversa (conf. Rom 7,23), que
luta contra o espírito.
- Tendes, então, duas partes em
vós mesmos: A sensualidade a razão.
- A sensualidade foi dada ao homem como servidora, a fim de que as
virtudes sejam exercidas e provadas através do corpo.
- O homem é livre, já que meu
Filho o libertou com seu sangue.
- Ninguém pode dominar a pessoa humana quanto à vontade, pois ela possui o livre arbítrio.
- Este se identifica com
a vontade, concorda com ela.
- Fica,
pois, o livre arbítrio entre a sensualidade e a razão, e inclina-se
ora de um lado, ora de outro, conforme preferir.
- Quando a pessoa tenta
livremente ‘congregar’ as Três
Faculdades em mim, na maneira explicada, todas as atividades espirituais e
corporais humanas ficam unificadas.
- O livre arbítrio se afasta da sensualidade, tende para o lado da razão e Eu me coloco no centro das
faculdades, realizando a Palavra de Meu Filho:
“Quando dois ou três se reunirem em meu nome, estarei no meio deles”
(Mt 18,20).
- Ninguém pode vir a Mim, senão por meio de Cristo.
(O Diálogo-Santa Catarina de Sena pg117)
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