Toda virtude é praticada no próximo
-Toda pessoa que vive longe de mim
(Deus) prejudica o próximo; e a si, dado que cada um é o primeiro próximo de si
mesmo.
- Acontece uma desordem
geral porque sois obrigados a amar os demais como a vós mesmos. De que
maneira?
- Socorrendo
espiritualmente pela oração,
- dando
bom exemplo,
- auxiliando
quanto ao corpo e quanto ao espírito, conforme as necessidades.
- No caso de alguém nada possuir,
pelo menos há de ter o desejo de auxiliar!
- Quem não me ama, também não ama
os homens; por isso não os socorre.
- Quem despreza a vida da graça,
prejudica antes de tudo a si mesmo, mas prejudica também os outros, deixando de
apresentar diante de mim –como é seu dever- orações e aspirações em favor
deles.
Todo e qualquer
auxilio prestado ao próximo deve provir do amor que se tem por aquela pessoa,
mas como consequência do amor que se tem por mim (Deus).
- Da mesma forma, todo mal se
realiza no próximo, e quem não me ama, também não tem amor pelos outros.
- A origem dos pecados está na
ausência da caridade para comigo e para com o homem.
Para fazer o mal, basta que se
deixe de fazer o bem.
- Contra quem se age, a quem se
prejudica na prática do mal? Primeiramente contra si mesmo; depois, contra o
próximo. A mim não prejudica.
- Eu não posso ser atingido, a
não ser no sentido de que considero feito a mim o que se faz ao homem.
- Será um prejuízo que leva a
culpa com privação da graça e, nesse caso, coisa pior não poderia acontecer; / ou
será uma recusa de afeição e amor, obrigatórios e que exigem o socorro pela
oração e súplicas diante de mim.
- Tudo isso é auxilio de ordem
geral, porque é devido aos homens em comum.
- O auxilio de ordem
pessoal consiste na colaboração prestada a pessoas com quem convivemos,
pois existe a obrigação aos homens de se ajudarem mutuamente com bons
conselhos, ensinamentos, bons exemplos e qualquer outra boa obra de que se
necessite.
- O bom conselho há de ser
desinteressado, como se fosse dado a si mesmo, sem segundas intenções egoístas.
- Quem não me ama, certamente não
agirá convenientemente e prejudicará os demais. Nem serão apenas prejuízos por
omissão do bem, mas ações más e danos até repetidos.
É no homem que se ama a Deus
- Todos os pecados são cometidos
através do próximo, no sentido de que eles são ausência da caridade, que é a
forma de todas as virtudes.
- No mesmo sentido, o egoísmo,
que é a negação do amor ao próximo, constitui-se como razão e fundamento de
todo o mal. Ele é a raiz dos escândalos, do ódio, da maldade, dos prejuízos
causados aos outros.
O egoísmo envenenou o
mundo inteiro.
- As virtudes se fundamentam no
amor pelos outros; é da caridade que as virtudes recebem a vida. Sem ela,
nenhuma virtude existe, pois as virtudes se adquirem no puro amor por mim.
- Consciente da minha
benevolência, o homem me ama direta e
indiretamente.
- Diretamente, não pensando em si mesmo ou em interesses pessoais; indiretamente, através da prática da
virtude.
- Toda virtude é concebida no
intimo do homem por amor de mim:
deverá ter ódio ao
pecado e amor a virtude, não existe maneira de me agradar e de se
chegar até mim (Deus).
- Depois de ter concebido
interiormente a virtude, a pessoa a pratica no próximo. Aliás, tal modo de agir
é a única prova de que alguém possui realmente uma virtude.
Quem me ama, procura
ser útil ao próximo.
- Nem poderia ser de outra maneira,
dado que o amor por mim e pelo próximo são uma só coisa. Tanto alguém ama o
próximo, quanto me ama, pois de mim se origina o amor do outro.
- O PRÓXIMO, eis o meio que vos dei
para praticardes e manifestardes a virtude que existe em vós. Como nada podeis
fazer de útil para mim, deveis ser de utilidade ao homem.
- Esta é a prova de que estou
presente em vós pela graça:
- se
auxiliais os outros com orações numerosas e humildes,
- se
desejais minha glória e a salvação dos homens.
Quem se apaixona por
mim, jamais cessa de trabalhar pelos outros.
É na dificuldade que se provam as virtudes
- Todas as virtudes revelam sua
existência e são exercitadas no próximo, da mesma forma como é nele que os maus
cometem seus pecados:
- a paciência ao ser injuriado pelos
outros;
- a humildade, quando se acha diante
do orgulhoso;
- a fé diante do infiel;
- a esperança, na presença de quem
nada espera;
- a mansidão e a benignidade, ante o irascível;
- É diante da soberba que aparece
a humildade. O homem humilde vence o orgulho, pois o orgulhoso é incapaz de
prejudicar quem é humilde.
- Do mesmo modo o descrente –que
não ama a Deus, nem N’Ele espera- não faz diminuir a fé do homem fiel ou a
esperança daqueles que a possuem no coração por meu amor. Ao contrário, até as
faz crescer e manifestar-se mediante o amor altruísta (sentimento de bondade desinteressada, que coloca outra
pessoa acima de si próprio).
- A virtude da justiça não
diminui diante das injustiças; evidencia-se até, pois a justiça se revela na
paciência.
- Também a benignidade e a
mansidão são evidenciadas pela doce paciência no tempo do ódio; e o amor
caridoso, todo cheio da sede e desejo de salvação alheia, torna-se visível
diante da inveja, do desprezo e ódio.
- Além de provar que são
virtuosas, pagando o mal com o bem, tais pessoas frequentemente atiram brasas (Rm 12,20) de amor, as quais consumirão a raiva
e o rancor do coração do irascível, levando-o a passar da ira a benevolência.
- Tudo isso acontece graças a
caridade e perfeita paciência daquele que suporta a raiva e demais defeitos do
malvado.
- Relativamente as virtudes da
fortaleza e perseverança, elas são comprovadas mediante os longos sofrimentos,
as ofensas, as difamações daqueles que procuram afastar o servidor fiel do
caminho verdadeiro, seja com atrativos, seja com ameaças.
- Quando o servidor fiel possui a
fortaleza interior, mostra-se realmente forte e perseverante, dando prova disso
no contato com os homens.
Quando alguém não
resiste no tempo das contradições,
é sinal de que não
possuía uma virtude verdadeira.
Texto extraído do Livro “O Diálogo
2.6-2.8” de Santa Catarina de Sena
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